Dos atentados evitados às barbaridades cometidas

Dos ataques evitados…

Nas últimas semanas houve notícias de vários atentados evitados. Três detidos na Alemanha, dois em França, para além do atentado executado em Paris dois dias antes das eleições, oito e mais dois em Espanha (aqui e aqui), quatro no Reino Unido. Ainda bem, assim se mostra a eficácia das ações preventivas que têm evitado inúmeros ataques na Europa. Mas mostra também que há, que permanece, e que continuará a haver, a intenção de efetuar ataques em solo Europeu nos próximos tempos.

Quase sempre, a seguir aos atentados efetivos, há uma verdadeira “corrida” às motivações dos que os fizeram. É importante, mas não nos devemos surpreender se as verdadeiras causas que os movem forem pouco profundas ou meras oportunidades para afirmar simples violência. A célebre frase de “extremistas violentos que se transformaram em radicais religiosos ou radicais religiosos que se transformaram em extremistas violentos” apresenta-se como verdadeira em muitos dos casos (ver a excelente análise de Oliver Roy). No fundo, o que verdadeiramente nos deve preocupar, é tentar encontrar a “mão que alimenta a violência”.

… às barbaridades cometidas

Como sabemos, esta é uma prática milenar, a de usar ideologias, políticas, religiões, aspirações étnicas, pessoas que vivem em ambientes socias desintegrados, para conseguir “voluntários” para causas muito distintas. Como sempre temos de ir à procura de quem promove, quem incentiva e alimenta a violência porque, quer queiramos quer não, pelo número de atentados efetivos registados, só em 2017, já vamos com mais de 300 ataques e com cerca de 2000 vítimas. Quem deseja causar a violência está longe de querer desistir.

Ninguém está livre de perigo. Há uns que estão menos expostos aos radicais e mais preparados para se prevenirem. Mas há muitos mais que estão à mercê da extrema violência e da, quase que passou a ser considerada normal, brutalidade que nos envergonha a todos. Neste mundo que é nosso, e no mesmo período de tempo, não evitámos mais um ataque em Cabul e assistimos (quem viu a notícia porque, como sempre, quando não é na Europa…) a mais um ato de extrema brutalidade na Síria, causando inúmeras mulheres e crianças mortas às mãos de cinco suicidas. Aí ninguém se preocupa muito em tentar encontrar a sociologia e a psicologia por detrás dos cinco suicidas (pois, leram bem, cinco). O que nos deve preocupar, lá como cá, é tentar encontrar quem manda, quem organiza e instiga e, fundamentalmente, quem aceita como normal que causar mortes violentas a milhares de civis é um procedimento possível para obter vantagens.

Quer se queira quer não, os que mandam matar e sofrer, são os mesmos, que de forma mais direta ou indireta (através de redes afiliadas ou por simples sugestão nas redes sociais), aspiram a objetivos transnacionais que, podendo, tentam chegar a todos (recorrendo, também cada vez mais, desde os mais novos aos mais velhos).

Evitaram-se vários atentados nas últimas semanas na Europa mas, a brutalidade do que não se evitou em tantos outros lados, deve-nos perturbar e obrigar a não desistir de construir um mundo mais justo e mais seguro para todos, que somos também, nós.

US soldiers. Photo by Josh Ives / CC BY 2.0

CC BY-NC-SA 4.0 This work is licensed under a Creative Commons Attribution-NonCommercial-ShareAlike 4.0 International License.

Nuno Lemos Pires

Researcher at CEI-IUL. Professor at the Portuguese Military Academy (PMA). Ph.D. in History, Defence, and IR (ISCTE-IUL and PMA); M.A. in Military Sciences (PMA). Guest lecturer at ISCTE-IUL, U. Nova, IESM, IDN. Professor of Military History and IR at IAEM and AM; Intelligence Officer at NATO / Rapid Deployable Corps (Spain).

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