Merkel e Schulz chegam a um consenso. Só falta convencer o resto do SPD

O regresso da grande coligação

Os partidos de Merkel (CDU) e de Schulz (SPD) conseguiram chegar a um consenso para o regresso da grande coligação. Esta informação surge depois do fim da última reunião entre os representantes dos dois partidos que durou mais de 24 horas e terminou na manhã desta sexta-feira (12). A possibilidade de coligação vai ser discutida entre os membros do SPD num congresso, no próximo dia 21 pelo que a formação desta coligação ainda não deve ser vista como algo definitivo.

Na sexta-feira, ficou a saber-se que as negociações para uma coligação formal irão prosseguir, depois de ambos os partidos se comprometerem em questões de vários quadrantes. Da reunião desta quinta-feira, resultou um acordo de 28 páginas entre as duas partes, apresentado por Angela Merkel.

A aliança francesa e o reforço da Zona Euro

De acordo com a RTP, o acordo de princípio iria ser submetido, ao longo desta sexta-feira, às instâncias dirigentes dos três partidos. A Reuters escreve que um dos pontos principais deste documento é o reforço da cooperação com França para reforçar e fortalecer a Zona Euro. O país também se prepara para aumentar as suas contribuições para o orçamento comunitário.

De acordo com o Público, o compromisso de trabalhar de perto com o governo de Emmanuel Macron é fortalecido em vários pontos. Já se viu aqui um deles – o reforço da cooperação. Mas na agenda está também a abertura de um novo centro conjunto para o estudo da inteligência artificial.

Restrições à imigração

Escreve o The Guardian que o acordo também passou pela imposição de uma limitação ao número de familiares que se podem reunificar com refugiados requerentes de asilo na Alemanha. O CSU (partido-gémeo da CDU na Baviera) quer limitar esse número e no acordo que foi conhecido esta sexta-feira, prevê-se uma limitação das entradas na ordem as 1000 pessoas por mês. O objetivo é melhorar a gestão da crise de refugiados e evitar um fluxo de entrada semelhante ao de 2015, ano em que o país recebeu um milhão de requerentes de asilo.

Os partidos defendem ainda a criação de uma comissão para a análise da capacidade de a Alemanha integrar os refugiados. Pedem também a criação de um sistema de asilo europeu, que avalie a resposta à crise de refugiados de forma mais satisfatória e justa.

Seguiu-se uma lógica semelhante no que toca à imigração: o total do número de imigrantes que entram no país deve ser limitado, num intervalo entre as 180 mil e as 220 mil pessoas.

O que se segue?

Os membros do SPD vão votar em conferência no próximo dia 21 de janeiro. A prova de fogo ainda está por vir:  a tarefa dos líderes do SPD vai ser a de convencer os outros membros do partido a pertencer a esta coligação. Ainda há tensões latentes no seio do partido e alguns membros do partido creem que os compromissos com a CDU irão por ainda mais em causa a identidade do partido de centro-esquerda e causar uma erosão crescente na sua influência política.  É de relembrar que estas conversações surgem na ressaca de um dos piores resultados do SPD do pós-guerra.

Se não forem bem-sucedidos, as únicas opções de Merkel serão formar governos minoritário ou antecipar as eleições.

As eleições de 24 de setembro demonstraram ser um fracasso para os partidos da antiga “grande coligação”: os dois partidos tiveram apenas 53,4% dos votos, quando em 2013 tinham alcançado 67% dos votos. Ao mesmo tempo, a pulverização dos votos levou à dispersão de lugares parlamentares e permitiu que o partido de extrema-direita AfD (Alternativa para a Alemanha) conseguisse ser a 3ª força política mais votada. Os resultados, ao permitirem a entrada da AfD no Parlamento, deixaram ainda mais difícil a tarefa de formar executivo – se forem marcadas novas eleições, teme-se que a popularidade do partido de extrema-direita aumente ainda mais.

Angela Merkel. Photo by World Economic Forum / CC BY-SA 2.0

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Inês Chaíça

Student at the Master in International Studies (ISCTE-IUL). Undergraduate degree in Communication Sciences.

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