O terceiro debate eleitoral nos Estados Unidos

O terceiro e último debate presidencial não trouxe nenhum elemento particularmente novo à campanha eleitoral para a presidência dos Estados Unidos da América. De acordo com os primeiros estudos de opinião, divulgados poucas horas após o debate, Hillary Clinton terá “vencido” este confronto. Esta é a opinião de 52% dos espectadores sondados pela CNN/ORC, contra 39% que consideraram Trump como vitorioso.

Os momentos marcantes

O debate ficou marcado, uma vez mais, pelo distanciamento e até pela animosidade entre os dois candidatos. Tal como dez dias antes, Hillary e Donald não cumpriram o tradicional aperto de mão antes do início do debate. Ao longo dos cerca de 90 minutos de confronto sucederam-se as tiradas menos simpáticas. Trump não hesitou em considerar Hillary Clinton como “such a nasty woman”, o que suscitou já uma ampla reacção; a candidata do Partido Democrático apelidou Trump de “horrifying”. As questões de fundo, quer de política interna, quer de política externa, parecem, uma vez mais, ter passado ao lado do debate, apesar das declarações de Clinton sobre as relações entre Trump e Putin ou da promessa de Donald Trump em nomear um juíz conservador para a vaga existente no Supremo Tribunal Federal. O momento mais marcante da noite acabou por ser a resposta de Donald Trump sobre a sua aceitação ou não do resultado eleitoral: “I’ll tell you at the time, I’ll keep you in suspense”, respondeu Trump ao moderador, confirmando o modo como, nos últimos dias, tem vindo a levantar suspeitas sobre o acto eleitoral do próximo dia 8 de novembro.

O ponto de viragem

Por conseguinte, nao é de crer que, a menos de três semanas do acto eleitoral, o terceiro debate venha a ter um impacto significativo nas intenções de voto dos norte-americanos. Nesta campanha, o grande momento de viragem foi, sem sombra de dúvida, a divulgação das declarações de Donald Trump em 2005, nas quais se referia de forma sexista e desrespeitosa às mulheres que procurava seduzir.

Foi a partir desse momento que as sondagens conhecidas assinalaram a descolagem de Hillary. Mesmo o eleitorado mais fiel a Trump, a tantas vezes referida “white working class”, parecia agora fugir ao candidato republicano. Sobretudo o eleitorado feminino. De acordo com o site realclearpolitics, que faz uma média de algumas das principais sondagens, a 8 de outubro, quando as declarações de Trump foram divulgadas, Hillary Clinton tinha uma vantagem de 4,6%; dez dias depois essa vantagem tinha já subido para 7,1%. Em termos de colégio eleitoral, o mesmo site projectava ontem, na véspera do terceiro debate, 333 grandes eleitores para Clinton, contra 205 de Trump.

A importância das eleições para o Senado

Ao longo do mês de outubro, assistimos também a um outro fenómeno significativo: uma autêntica debandada do Partido Republicano e de algumas das suas principais figuras da campanha eleitoral e do apoio a Donald Trump: alguns republicanos optaram pelo silêncio, outros fizeram-no de forma mais frontal, como foi o caso de Condoleeza Rice, antiga Secretária de Estado.

É que, nesta fase, os republicanos parecem já estar mais preocupados com os potenciais danos que a campanha de Donald Trump possa vir a inflingir no próprio Partido, nomeadamente no controlo exercido em ambas as câmaras do Congresso. Apesar de ofuscadas em termos noticiosos pela corrida presidencial, no dia 8 de novembro ocorrerão eleições não menos importantes para o Senado, com 34 lugares em disputa. Voltando às sondagens do site realclearpolitics, se as eleições senatoriais fossem hoje os democratas teriam 49 assentos, contra 51 dos republicanos, embora existam alguns Estados em que a diferença é mínima e que a qualquer momento poderão fazer inverter esta contagem.

WikiConference North America 2016, Photo by Another BelieverCC BY 4.0

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Luís Nuno Rodrigues

Director and researcher at CEI-IUL. Associate Professor at ISCTE-IUL. Editor of the Portuguese Journal of Social Science. Ph.D in American History (University of Wisconsin). Visiting professor at Brown University.

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