Os protestos no Irão não têm a transversalidade nem a força de uma revolução

O académico Arshin Adib-Moghaddam defende que estas manifestações mostram que os vários governos não conseguem calar um desejo de mudança dos iranianos – mas sublinha que este desejo é de reforma e não de revolução.

O que está a acontecer no Irão não tem a dimensão dos protestos de 2009 nem a transversalidade de um movimento revolucionário, diz numa entrevista por email ao PÚBLICO Arshin Adib-Moghaddam, professor de Pensamento Global e Filosofias comparativas na SOAS [School of Oriental and African Studies] da Universidade de Londres, director do Centro de Estudos Iranianos no London Middle East Institute (LMEI), investigador associado no ISCTE, da Universidade de Lisboa, e autor de vários livros sobre política iraniana (como o mais recente Psycho Nationalism: Global Thought, Iranian Imaginations, Ed. Cambridge University Press, sem tradução em português).

O que pensa sobre os protestos actuais no Irão?

As manifestações devem-se sobretudo a queixas por causa de medidas de austeridade neoliberais levadas a cabo pelo governo do [Presidente Hassan] Rohani. Também têm a ver com as tentativas dos iranianos conseguiram um Estado um pouco mais democrático e pluralista. Como expliquei no meu recente livro Psycho Nationalism, os esforços para controlar os iranianos em nome de várias formas de governo na História moderna não silenciaram a sua voz. Dito isto: este é um movimento de reforma, não um movimento pela revolução.

Os slogans têm sido, no entanto, contra o Presidente, mas também contra o ayatollah Khamenei?

Os slogans são dirigidos contra o Estado, mas isso não quer dizer que haja um protesto coerente que queira derrubar o regime. Primeiro, é demasiado marginal, e segundo, não há vontade real no Irão para outra revolução. Slogans são slogans, uma revolução precisaria de muito mais do que retórica.

O regime está mais unido face a estes protestos, depois de algumas diferenças por exemplo em relação ao acordo sobre o nuclear?

O aparelho de Estado no Irão sempre se manteve unido contra ameaças à sua soberania e à ordem nacional. Há um consenso político no Irão em relação à legitimidade do sistema – embora haja grandes desacordos sobre a sua interpretação.

Quem são os manifestantes?

A demografia das manifestações mostra que estão a ocorrer especialmente nas províncias. Os principais protagonistas parecem ser dos estratos mais baixos da sociedade iraniana, que sentiram o impacto maior do regime de sanções imposto pelos Estados Unidos que os prejudicaram a eles – e não ao Estado iraniano.

Leia a entrevista completa no site do jornal Público.

Hassan Rouhani. Photo by Meghdad Madadi / CC BY 4.0

CC BY-NC-SA 4.0 This work is licensed under a Creative Commons Attribution-NonCommercial-ShareAlike 4.0 International License.

Arshin Adib-Moghaddam

Senior Associate Fellow at CEI-IUL. Professor in Global Thought and Comparative Philosophies and Chair of the Centre for Iranian Studies at the London Middle East Institute. Educated at the Universities of Hamburg, American (Washington DC) and Cambridge, where he received his MPhil and PhD as a multiple scholarship student, he was the first Jarvis Doctorow Fellow in International Relations and Peace Studies at St Edmund Hall and the Department of Politics and International Relations, University of Oxford. Best known for his work on Iran, relations between the west and the Muslim world and the international politics of West Asia and North Africa.

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