Soares é fixe! (1924-2017)

“Um homem cuja causa foi sempre a mesma: a liberdade.” – Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente da República

“Devemos-lhe muito. Estaremos eternamente gratos.” – António Costa, Primeiro-Ministro

A morte de Mário Soares

Morreu o antigo Presidente da República Mário Alberto Nobre Lopes Soares, a 7 de Janeiro de 2017, com 92 anos. Um homem “que não acreditava na eternidade mas fica na História”, um afincado opositor do Estado Novo, o homem que apresentou a democracia a Portugal, fundador do Partido Socialista (PS) e que, em 1986, nos virou para a Europa. A sua partida não deixa ninguém indiferente: ficamos mais pobres, mas o seu legado, um Portugal democrático, persiste. E Soares será sempre fixe.

Na imprensa portuguesa

A jornalista Anabela Natário, no jornal Expresso, relembra que Mário Soares “nasceu num país muito maior, numa cidade mais pequena, numa freguesia que já não existe, sob um regime que se impôs a outro e que, com a sua ajuda, também já ficou no passado.” No Observador, é possível ter uma noção da vida em Portugal quando nasceu Mário Soares: “(…) os passes dos transportes em Lisboa davam polémica, a noite era de boémia e na Rússia chorava-se a morte de Lenine”. Mário Soares, como destaca o Diário de Notícias, ganhou notoriedade enquanto advogado no processo da morte do General Humberto Delgado, e lutou durante cerca de 32 anos contra a ditadura que imperava no país. O Público dedicou vários artigos à vida e obra do icónico Presidente, destacando o modo como “lutou como poucos contra a ditadura, foi preso, casou na prisão e teve de deixar o país”, ou como influenciou a história do século XX. É também imperativo ler a crónica de Miguel Esteves Cardoso, intitulada “Mário Soares deixou-nos e deixou-nos tudo”, enquanto o Jornal de Notícias publica uma infografia da vida política de Mário Soares desde 1973, ano de fundação do PS, e faz ainda um apanhado do currículo político do antigo Presidente.

Em 1985, iniciou o processo de adesão à antiga Comunidade Económica Europeia (actual União Europeia), ambição que tinha desde a década de 1960. Quando em 1986 disputou as eleições presidenciais, Soares viu-se frente a frente, num debate histórico, com o seu amigo Diogo Freitas do Amaral, que garante que “apesar de termos ser sido adversários vigorosos em 86, não deixamos de ser amigos, continuamos a ser amigos. É normal que tenha havido alguma agressividade. Os dois queríamos ser Presidente”. Pela voz do Presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, a União Europeia (UE) já apresentou as suas condolências à família de Mário Soares, bem como a toda a nação portuguesa, não esquecendo o seu desempenho na transição democrática e nos valores comuns à UE que nunca deixou de defender.

Na imprensa internacional

O espanhol El País refere que é impossível compreender o último meio século de história portuguesa sem que se refira várias vezes o nome de Mário Soares, destacando o seu carácter forte e a sua vida activa até ao fim dos seus dias. No Brasil, o jornal Estadão refere como o socialista “era admirado por sua tenacidade e otimismo exuberante” e o francês Le Figaro escreve um artigo onde usa uma frase de Soares como título: “A Humanidade irá mobilizar-se pelas ideias, não somente por interesses”. Na Alemanha, o Der Spiegel refere que Portugal perdeu um dos seus políticos mais importantes no período pós-guerra, não esquecendo a influência que ex-Chanceler Willy Brandt na sua vida política. O The New York Times explica como o antigo Presidente regressou depois de 12 anos no exílio para ajudar a implementar a democracia numa época de grande instabilidade política, não esquecendo a sua visita ao ex-líder palestiniano Yasser Arafat em 1995, aquando do assassinato do Primeiro-Ministro israelita Yitzhak Rabin. Já o The Wall Street Journal menciona o papel de Soares na transição democrática portuguesa, num artigo disponível apenas para assinantes. O britânico Financial Times cita o próprio Soares quando, em 1996, referiu “se eu tivesse vivido em democracia, em vez de passar 32 anos a sair e a entrar da prisão, a fugir da polícia e a conspirar em segredo contra a ditadura, poderia ter alcançado muito mais para Portugal”.

A Memória de Soares

Mário Soares é sinónimo de democracia e liberdade. Respeitá-lo e ao seu trabalho é o mínimo que se exige. Seja qual for a cor que nos politiza. Eu aprendi a gostar de Soares sozinha, à medida que descobri a democracia e o valor da liberdade. Hoje, com a sua partida, quero acreditar que a política portuguesa se veste de negro: da esquerda à direita. E assim, este texto só faria sentido em português. Obrigada por tudo, Mário Soares.

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Mónica Canário

Research Assistant at CEI-IUL. Ph.D. Candidate in Political Science, specialisation in International Relations (ISCTE-IUL).

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