Sombras sobre o Brasil

O cenário que se desenhar é um retrato fiel da forma como a Lava-Jato ceifou a classe política brasileira e de como o sistema, dominado pelos próprios suspeitos, é totalmente incapaz de se regenerar.

A situação política brasileira é confrangedora. A menos de dez meses das eleições presidenciais, os dois candidatos mais bem posicionados nas sondagens são o antigo Presidente Luís Inácio Lula da Silva, recentemente condenado no âmbito da polémica operação Lava-Jato; e Jair Bolsonaro, deputado de extrema-direita, conhecido pelo seu discurso racista, pela sua paixão pela ditadura militar… e pelas suspeitas de enriquecimento ilícito.

O cenário que está a desenhar-se é um retrato fiel da forma como a Lava-Jato ceifou a classe política brasileira e de como o sistema, dominado pelos próprios suspeitos, é totalmente incapaz de desencadear um processo de reforma e regeneração. Não sendo de estranhar que os deputados e senadores não pretendam levar a cabo um suicídio colectivo, acaba por ser duro constatar a fatalidade do destino colectivo brasileiro.

No próximo dia 24, o recuso de Lula começará a ser julgado pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região, em Porto Alegre. Uma confirmação da sentença ditada em primeira instância pelo juiz Sérgio Moro será um sério revés para as aspirações do antigo Presidente e para o Partido dos Trabalhadores (PT). Como fica patente neste artigo da Gazeta do Povo, a questão está longe de estar resolvida e a indefinição, no limite, poderá manter-se até depois da própria eleição presidencial.

O PT impediu a esquerda brasileira de levar a cabo uma renovação geracional. Apesar de o ímpeto inicial impresso por Dilma Rousseff ao seu primeiro mandato presidencial ter permitido uma certa autonomia em relação a Lula, a crise e a ameaça de destituição, no segundo mandato, voltaram a colocá-la na dependência do seu antecessor. Quem não se recorda da fracassada e desesperada tentativa de o nomear ministro-chefe da casa civil? Esse gesto foi a machadada final na sua carreira política e o reconhecimento de que para lá de Lula (por enquanto) não há PT.

Leia o artigo completo de Filipe Vasconcelos Romão no site do jornal ECO.

Michel Temer, Dilma Rousseff e Lula da Silva. Photo by Acervo Fotográfico da Câmara dos Deputados / CC BY 2.0

CC BY-NC-SA 4.0 This work is licensed under a Creative Commons Attribution-NonCommercial-ShareAlike 4.0 International License.

Filipe Vasconcelos Romão

Associate Researcher at CEI-IUL. PhD in IR (Univ. Coimbra). Advanced Studies Diploma in International Politics and Conflict Resolution (Univ. Coimbra). Guest Professor at ISCTE-IUL. Professor at UAL. President of the Portugal - South Atlantic Commerce Chamber.

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