A Testar os Limites do Sistema

A eleição de Donald Trump representa um enorme teste para o sistema político norte-americano e, sobretudo, para o Partido Republicano. É, aliás, provável que o novo presidente cause maior perturbação nos republicanos do que nos democratas, para quem Trump pode constituir uma oportunidade para gerar coesão num partido dilacerado pelas divisões expostas nas eleições primárias.

O Partido Republicano não é Donald Trump, apesar de haver uma clara maioria dos eleitores republicanos que se revê em Trump. No entanto, sobre os ombros dos republicanos pesam vários mandatos presidenciais, um sistema que ajudaram a definir e um histórico que não é propriamente compatível com aventureirismos. É evidente que as últimas décadas acentuaram o conservadorismo social e o liberalismo económico republicano: entre Eisenhower e Donald Trump, temos um percurso de figuras tão díspares como Nixon, Ford, Reagan, Bush I e Bush II. Nos últimos anos, o peso do minoritário Tea Party condicionou fortemente o partido. Porém, nem sequer entre os seus militantes eram frequentes declarações ameaçadoras aos países vizinhos ou atitudes abertamente xenófobas. Comparando o incomparável, o Tea Party será ideologicamente mais próximo dos católicos ultraconservadores no poder na Polónia do que da extrema-direita francesa.

Nunca é excessivo afirmar que os dois principais partidos norte-americanos não têm estruturas semelhantes às dos partidos europeus, sendo sobretudo coligações alargadas que variam ideologicamente em função dos estados e de interesses corporativos. Nesse sentido, e apesar de os republicanos terem demonstrado desde os anos 90 um maior pragmatismo e uma maior coesão quando comparados com os democratas, torna-se difícil prever que figuras moderadas como o senador John Mccain alinhem acriticamente com as derivas autoritárias do novo presidente. Por outro lado, os diferentes congressistas e senadores, eleitos uninominalmente, respondem perante eleitorados muito diferentes e não homogéneos. Um congressista republicano da Califórnia não tem a mesma agenda do que um congressista republicano do Mississípi.

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President Donald Trump, Vice-President Mike Pence and Secretary of Homeland Security John F. Kelly. Photo by U.S. Department of Homeland Security / Public domain.

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Filipe Vasconcelos Romão

Associate Researcher at CEI-IUL. PhD in IR (Univ. Coimbra). Advanced Studies Diploma in International Politics and Conflict Resolution (Univ. Coimbra). Guest Professor at ISCTE-IUL. Professor at UAL. President of the Portugal - South Atlantic Commerce Chamber.

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