This Week in the News (December 9, 2016)

A criminalidade urbana violenta na Costa do Marfim: os microbes

Os grupos de microbes continuam a dar que falar na Costa do Marfim. Esta semana um grupo de cinquenta jovens armados de machettes e outras armas brancas tomou de assalto o bairro de Cocody, em Abidjan.

Esta é uma forma de criminalidade urbana que é relativamente recente no país, em que grupos de jovens adolescentes agridem e assaltam as populações de uma forma particularmente violenta, havendo mesmo casos de mortes a que se seguem represálias. O termo microbes será supostamente inspirado no filme Cidade de Deus de Fernando Meirelles. Apesar de a criminalidade violenta parecer arbitrária os grupos de jovens estão organizados.

Enquanto as respostas do governo do país (a re-resocialização em centros, a criação de uma força especial, ou o programa Épervier) se revelam ineficazes e especialmente viradas para a repressão, as populações revoltam-se e fazem justiça pelas próprias mãos. Outros actores “menos reactivos” promovem a integração social. Do lado dos microbes, por seu lado, vão-se ouvindo promessas de alianças futuras com as redes jihadistas que medram na região.

São ainda poucos os estudos que sobre as novas formas criminalidade urbana violenta e as suas razões sócio-económicas, mas factores como o isolamento social, a precariedade das infraestruturas urbanas, mas também os ressentimentos inter-comunitários, misturados com a tensa história política recente (a crise pós-eleitoral que opôs Alassane Ouattara a Laurent Gbagbo em 2011 é apontada como momento charneira), poderão ajudar a melhor compreender o fenómeno e os espaços “desestruturados” onde evolui.

Adama Barrow dá os seus primeiros passos como futuro presidente da Gâmbia

A tarefa de suceder a Yahya Jammeh à frente da Gâmbia não se avizinha fácil para Adama Barrow que na passada quinta-feira, 1 de Dezembro, conseguiu o feito de reunir em torno de si o capital político suficiente para obrigar o ditador a conceder a derrota. Apesar disso, o futuro presidente dá bons indícios de ser capaz de materializar esta boa notícia para os processos democráticos na região, tendo conseguido desde logo votos de confiança por parte do exército.

Com a sua visita a Touba, ao khalife géneral dos Mouride, Barrow deixa também boas notas para as futuras relações com o Senegal, país do qual o futuro ex-presidente se tinha distanciado e com o qual teve sempre uma relação ambígua. Barrow reafirmou a sua vontade de reaproximar os dois países na base das relações familiares que ligam as suas populações.

Este «self-made man» que poucos conheciam liderará o país numa legislatura “de transição”, que terá apenas três anos, conforme o manifesto divulgado em nome da coligação que encabeça, compromisso reforçado pelo próprio.

Uma nota negativa para a imprensa inglesa, que não conseguiu olhar para esta eleição como um feito incomum no panorama político africano, escolhendo dar ênfase desmedida a uma fase particular do percurso de Adama Barrow enquanto “antigo segurança” da cadeia de supermercados Argos, dando sinais de sobranceria e falta de visão.

1400 migrantes subsarianos “deixados” às portas do deserto

No passado dia 2 de Dezembro a Liga Algeriana para a Defesa dos Direitos Humanos denunciou a detenção de 1400 migrantes em vários bairros de Argel, em violação das normas de direito internacional. Muitos terão mesmo sido conduzidos ao extremo sul do país, para a cidade de Tamanrasset. A militarização das «zonas cinzentas» de acesso à Europa continua através do exercício arbitrário da força por parte dos estados que, segundo Omar Benderra, agem no sentido de mostrar serviço aos países ocidentais, procurando impedir a constituição de ‘novas rotas’. Com a crescente dificuldade de viajar para a Europa e com a externalização das fronteiras os migrantes entram na ‘indústria da ilegalidade’.

A relativa estabilidade da Argélia apresenta-se como uma falsa alternativa (temporária?) mas face ao impossível retorno. Os africanos subsarianos, vivem numa situação de grande precariedade no país, do trabalho não declarado (dito informal) do qual se aproveitam um grande número de pessoas, e sem qualquer protecção social ao sabor da arbitrariedade da violência.

A Amnistia Internacional lançou recentemente uma série de videos, nos quais são retratadas as vidas de migrantes e refugiados no sentido de sensibilizar para o acolhimento.

CC BY-NC-SA 4.0 This work is licensed under a Creative Commons Attribution-NonCommercial-ShareAlike 4.0 International License.

Ricardo Falcão

Researcher at CEI-IUL. Anthropologist and PhD in African Studies, I have chosen as my field the country Senegal. My PhD thesis is on the appropriation of information and communication technology in Senegal. Research interests: Senegalese youth, bodily practices, sexuality, tradition/modernity, social hierarchies, postcolonial studies, Sufi Islam/pagan cults, land property, and patron/client relations.

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