Um Segundo Ataque a Mossul: e Depois?

O anúncio de uma segunda ofensiva

No dia 17 de outubro de 2016 foi anunciada a segunda operação ofensiva para retomar a cidade de Mossul. Devemos recordar que no dia 24 de março deste ano, idêntico anúncio foi feito mas, como sabemos, sem qualquer sucesso.

É importante recordar o que falhou em março para se saber se as lições entretanto aprendidas (lessons learned, uma prática entre todas Forças Armadas por todo o mundo, em que Portugal tem um lugar de destaque) foram absorvidas e tidas em consideração para esta segunda operação.

Os libertados e os libertadores

Quando a ofensiva se iniciou em 24 de março ainda havia muito território por controlar entre Bagdade e Mossul, entre a Turquia e na grande região de Anbar. Ou seja, existia uma área demasiado grande e sem controlo que permitisse uma ofensiva sustentada e apoiada.

Mas o fator mais importante, e que de imediato se tornou conhecido, foi a falta de aceitação que haveria, por parte dos libertados, do perfil dos libertadores. Embora a esmagadora maioria dos habitantes de Mossul não desejasse viver sob o domínio do Daesh, também não queria ser libertada por um exército, na sua maioria, xiita, ou ainda menos, por milícias xiitas ou curdas.

Naquela grande cidade do Iraque, Mossul, com os seus dois milhões de habitantes, ficavam patentes os enormes desafios para o futuro do Iraque. Em março ficou nítido que “libertar” Mossul era apenas uma pequena parte de um gigantesco problema.

Afinal, quando, em junho de 2014 a cidade tinha sido conquistada pelo Daesh, já tinha ficado bem evidente a enorme desconfiança étnica e religiosa existente entre xiitas e sunitas, quando grande parte da cidade recusou a defender-se – desejosa de se ver livre de uma determinada dominação xiita.

A situação atual

Desde 2014 até outubro de 2016 muitas coisas evoluíram. O líder do Iraque é outro, o apoio da comunidade internacional é bastante maior, as questões de equilíbrio e equidade passaram a ter um peso muito mais determinante e, ao que parece, as forças armadas iraquianas também.

Esperemos que esta complicadíssima segunda ofensiva sobre Mossul tenha sucesso, a bem dos seus mais de um milhão e meio de habitantes (atualmente ninguém sabe ao certo quantos restaram dos iniciais dois milhões presentes em 2014) mas que, acima de tudo, e assim parece, o pós ocupação esteja bem pensado.

As lições aprendidas do passado bem nos demonstram que, pela frente, há dois enormes desafios: o de levar o Daesh à derrota num ambiente urbano muito complexo e, depois, o de garantir condições para um futuro estável, equilibrado e em paz (este último, talvez o mais difícil dos dois).

The Iraqi Army on a patrol in Mosul, Photo by Staff Sgt. Jason Robertson / public domain

CC BY-NC-SA 4.0 This work is licensed under a Creative Commons Attribution-NonCommercial-ShareAlike 4.0 International License.

Nuno Lemos Pires

Researcher at CEI-IUL. Professor at the Portuguese Military Academy (PMA). Ph.D. in History, Defence, and IR (ISCTE-IUL and PMA); M.A. in Military Sciences (PMA). Guest lecturer at ISCTE-IUL, U. Nova, IESM, IDN. Professor of Military History and IR at IAEM and AM; Intelligence Officer at NATO / Rapid Deployable Corps (Spain).

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