Eleições no Paraguai podem mudar “natureza da democracia” e condicionar Mercosul

O investigador do CEI-IUL, Luis Fretes Carreras, foi entrevistado pelo Jornal Económico sobre o processo eleitoral do Paraguai que decorreu no dia 22 de abril, em que venceu o candidato Mario Abdo Benítez do Partido Colorado:

A população do Paraguai, uma das mais pobres da América do Sul, escolhe este domingo um novo presidente e novos membros para o Congresso e para o Mercado Comum do Sul (Mercosul). Estas são as sétimas eleições gerais desde a chamada “redemocratização”. Na corrida estão Mario Abdo Benítez, da ala mais conservadora do Partido Colorado, e Efraín Alegre, que concorre pela maior e mais ampla coligação do país, a Grande Aliança Nacional Renovada.

Em democracia há 29 anos, o Paraguai é marcado pelas assimetrias económicas e sociais, sendo que só desde 2003 é que a economia do país dá sinais de evolução com o surgimento de uma classe média. Há quase 70 anos que o país vive sob a hegemonia política do Partido do Colorado. A nível externo, estas eleições podem influenciar a orientação política do cone sul e implicar nas negociações do acordo de livre comércio do Mercosul com a União Europeia (UE), em negociação há quase 20 anos.

O país dos Guaranis é conhecido na América do Sul pela economia de mão de obra barata e impostos baixos. Uma realidade ainda influenciada pelos efeitos do regime de Alfredo Stroessner (1954-1989), do Partido Colorado, que ficou na história por ter perseguido e feito “desaparecer” opositores políticos, numa época em que sucessivas administrações dos Estados Unidos apoiaram os chamados regimes anticomunistas no continente latino. Na era Stroessner, o Paraguai era uma terra de exílio e emigração, de contrabando, tráfico de drogas e armas. Atualmente, a sua economia assenta na indústria da soja (o país é o sexto produtor mundial), em produtos exportados para o Brasil e por ser um refúgio para fortunas argentinas e brasileiras. Em 2003, 50% da população vivia na pobreza; hoje apenas 28%, mas ainda há muitos paraguaios a emigrar. O Paraguai, além da Argentina, Brasil, Chile e Peru é o último reduto sul-americano onde um partido de direita está no poder.

O Jornal Económico entrevistou Luis Antonio Fretes Carreras, professor e investigador do ISCTE e antigo embaixador do Paraguai em Portugal, que está a acompanhar estas eleições e que considera o sufrágio deste domingo decisivo. Carreras, explica como a disputa entre Benítez, filho do antigo secretário pessoal de Stroessner, e Efraín Alegre, pode definir o futuro do país membro efetivo do Mercosul ( a par de Argentina, Brasil e Uruguai).

Esta é a sétima eleição geral desde a chamada “redemocratização” do Paraguai, em 1989. O que está em causa?

São as sétimas eleições gerais desde o início da transição democrática. Foi uma transição inconclusiva, que nos últimos anos teve um grande retrocesso no que respeita a direitos humanos e ao Estado de Direito. Isto levou a protestos, à queima da sede do Congresso e ao assassinato de um dirigente da oposição pela polícia.

Em causa está o modelo de desenvolvimento e a superação da pobreza: o Paraguai é um país muito rico, mas com uma população pobre, sob grande desigualdade social. Nas últimas décadas, o Paraguai tem tido um alto desempenho económico pela riqueza agropecuária e produção de energia elétrica (maior produtor mundial per capita). Mas as políticas do Governo de Cartes mantiveram inacessível os serviços sociais de saúde, educação, transporte e habitação à população. Com o grande crescimento económico, ocorreu algo impensável – o aumento do nível de pobreza e a diminuição do investimento em educação.

Leia o artigo completo no site do Jornal Económico.

Photo by Rennett Stowe / CC BY 2.0

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CEI IUL

CEI-Iscte (Centre for International Studies) is a university-based multidisciplinary research center at ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE-IUL). CEI-Iscte aims at promoting interdisciplinary research in Social Sciences, International Relations and Economy, focusing in its areas of geographic specialisation: Africa, Asia, Europe, and Transatlantic Relations.

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