Os Estados Unidos e os Desafios Globais do Século XXI

A eleição de Donald Trump em novembro de 2016 foi o facto mais surpreendente do ano político internacional. É certo que outros desenvolvimentos se aproximaram dessa duvidosa honra (como o triunfo do Brexit, por exemplo). No entanto, a vitória de Trump é o evento que trará consequências mais decisivas para o mundo nos próximos anos.

Como tem sido dito e reafirmado por muitos analistas, a Presidência Trump significará para os Estados Unidos uma mudança significativa na condução da sua política externa. Se é certo que existem alguns elementos de continuidade, nomeadamente em relação a anteriores administrações republicanas, a verdade é que Trump anunciou desde sempre a sua intenção de recuperar alguns dos princípios que estavam há muito arredados da política externa norte-americana, nomeadamente o isolacionismo. Esta mudança tem sido analisada, sobretudo, em termos políticos e estratégicos, mas ela terá também sérias implicações quando entendida à luz dos grandes desafios societais que se colocam ao mundo no início do século XXI e relativamente aos quais a posição norte-americana continuará a ser decisiva.

Uma das áreas mais significativas é a das alterações climáticas. Ao contrário do que se verificou durante a administração Obama, a eleição de Donald Trump parece significar o triunfo das teses negacionistas, isto é, da negação de que o aquecimento global do planeta é fruto da actividade humana. Neste contexto, será fundamental perceber se a nova administração irá respeitar o Acordo de Paris, em relação ao qual Trump continua a afirmar publicamente que prefere manter todas as opções em aberto.

As grandes migrações transnacionais e os problemas a elas associados, nomeadamente a questão dos refugiados, são outro dos grandes desafios internacionais da actualidade. A escolha para Secretário-Geral da ONU da pessoa que liderou a agência especializada deste organismo para a questão dos refugiados é disso um bom indicador. Neste ponto, as posições assumidas por Donald Trump durante a campanha eleitoral também não são tranquilizadoras e deixam antever que o novo inquilino da Casa Branca considera a imigração como uma ameaça à segurança e à economia norte-americana e que provavelmente irá nesta matéria proceder ao arrepio das recomendações das Nações Unidas.

Por fim, a questão do comércio global. Donald Trump, como é sabido, manifestou-se por diversas vezes, nos últimos meses, contra a liberalização excessiva do comércio internacional. Já depois de eleito, anunciou, entre as suas primeiras medidas, a suspensão do TPP e a renegociação do NAFTA. Nesta matéria, o aparente retraímento dos Estados Unidos abrirá a porta para uma posição ainda mais assertiva por parte da China no que diz respeito aos grandes fluxos mercantis internacionais.

São apenas três exemplos de áreas nas quais os Estados Unidos, enquanto grande potência internacional, têm responsabilidades inequívocas. A posição que a administração Trump assumir será, por conseguinte, decisiva, não apenas para os Estados Unidos, como para o mundo geral. E, verdade se diga, os indicadores de que dispomos neste início de 2017 não são particularmente tranquilizadores.

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Donald Trump at Hershey, PA, December 2016. Photo by Michael Vadon [CC BY-SA 4.0]

CC BY-NC-SA 4.0 This work is licensed under a Creative Commons Attribution-NonCommercial-ShareAlike 4.0 International License.

Luís Nuno Rodrigues

Director and researcher at CEI-IUL. Associate Professor at ISCTE-IUL. Editor of the Portuguese Journal of Social Science. Ph.D in American History (University of Wisconsin). Visiting professor at Brown University.

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