Terrorismo e eleições nos Estados Unidos

Os ataques terroristas que tiveram lugar nos Estados Unidos nos dias 17 e 18 de setembro permitiram relançar o debate sobre a influência de ameaças e ataques terroristas em eleições presidenciais norte-americanas. Ambos os candidatos se pronunciaram, por diversas vezes, sobre esta questão que poderá tornar-se num importante tema de campanha agora que se avizinham os debates televisivos.

Logo no dia 19, Trump acusou a Casa Branca e Hillary Clinton de desvalorizarem a importância da ameaça e reiterou os seus apelos para a interdição da imigração oriunda de países muçulmanos. Recorde-se que o único suspeito detido até agora, Ahmad Khan Rahami, é um muçulmano de origem Afegã, com 28 anos, a viver nos Estados Unidos há mais de 20, embora sem ligação conhecida a redes terroristas internacionais. Nas declarações à Fox News, Trump aludiu a “ligações ao estrangeiro” e disse que a existência de grupos terroristas nos Estados Unidos se devia ao facto de “deixarmos estas pessoas vir para o nosso país e destrui-lo, tornado-o inseguro”.

Hillary Clinton, pelo contrário, considerou que as declarações de Donald Trump apenas beneficiam a propaganda de grupos terroristas, como o Estado Islâmico. A antiga Secretária de Estado disse ainda ser “a única candidata nesta corrida que já esteve no centro de decisões para afastar os terroristas do campo de batalha” e acusou Trump de demagogia ao procurar responsabilizar Obama e Hillary pela proliferação dos ataques.

Qual será verdadeiramente o impacto das ameaças e ataques terroristas na campanha eleitoral de 2016?

Um estudo recente das politólogas norte-americanas Jennifer Merolla e Elizabeth Zechmeister procurou responder a esta questão avaliando o efeito das notícias sobre terrorismo junto da opinião pública. As autoras foram capazes de identificar  três tipos de efeitos:

• Em primeiro lugar, quando a ameaça terrorista tem um maior destaque nas notícias, a opinião pública tende a manifestar uma atitude de menor tolerância para com o “outro”, ou seja, para com aqueles que identifica como a origem do ataque ou da ameaça. Neste sentido, as palavras de Trump, voltando a defender os limites à entrada de imigrantes, parecem ir ao encontro desta reacção da opinião pública e poderão permitir ao candidato reverter a seu favor este sentimento.

• Em segundo lugar, ainda de acordo com as mesmas autoras, quando confrontada com uma ameaça vinda do exterior (o que, manifestamente, não parece ser o caso dos atentados mais recentes), a  opinião pública norte-americana reforça a sua coesão em torno de quem lidera e, em caso de eleições, manifesta a sua preferência pelas qualidades de liderança dos candidatos. A essa qualidade de “liderança” os norte-americanos associam, normalmente, figuras masculinas e republicanas mas, também, uma outra característica muito importante: a experiência em termos de política externa e de segurança nacional. Aqui, apesar da postura mais contundente de Trump, a verdade é que no capítulo da experiência e até de aceitação pelo “national security establishment”, Hillary Clinton parece bater aos pontos o candidato republicano devido, em grande medida, à sua passagem pelo Departamento de Estado. Vale a pena recordar os números de uma sondagem divulgada a 18 de setembro pela insuspeita Fox News, revelando que mais de metade dos eleitores americanos não considera que Trump tenha nem a preparação, nem o temperamento adequados ao desempenho da presidência dos Estados Unidos da América.

• Por fim, Merolla & Zechmeister concluíram também que, em caso de ameaça ou ataque terorrista, a opinião pública manifesta a sua preferência por candidatos que defendem posturas mais agressivas em termos de política externa e de segurança interna, mesmo que isso ponha em causa direitos e liberdades dos cidadãos.

No final da semana que ficou marcada pelos atentados de 17 e 18 de setembro, as sondagens pareciam indicar que o impacto desses acontecimentos não foi determinante. No dia 18 de setembro, o site realclearpolitics.com, que faz a média das sondagens disponíveis, atribuía uma vantagem de 0,9% a Hillary Clinton. Cinco dias depois, essa vantagens situava-se nos 3%. Segundo o mesmo site, as contas para o colégio eleitoral (mais importantes do que os resultados nacionais) também se mantêm inalteradas desde 15 de setembro, com 200 votos eleitorais assegurados por Hillary, 164 por Trump e 174 em disputa. Por conseguinte, a reacção dos dois candidatos terá sobretudo servido para consolidar a base de apoio que já tinham e não tanto para fazer potenciais eleitores mudar de opinião.

Se olharmos para dados de junho de 2016, recolhidos pelo Pew Research Center, o terrorismo é considerado como um tema “muito importante” por 80% dos eleitores. No entanto, entre os apoiantes de Donald Trump esse número sobre para 89%, enquanto que apenas 74% dos potenciais eleitores de Hillary partilham dessa opinião. Uma coisa, porém, é certa: no primeiro debate televisivo entre os dois candidatos, a 26 de setembro, o terrorismo e a melhor estratégia para com ele lidar serão questões centrais para as quais os dois candidatos terão que encontrar respostas convincentes.

Photo by André-Pierre du Plessis / CC BY 2.0

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Luís Nuno Rodrigues

Director and researcher at CEI-IUL. Associate Professor at ISCTE-IUL. Editor of the Portuguese Journal of Social Science. Ph.D in American History (University of Wisconsin). Visiting professor at Brown University.

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