A Morte de Fidel Castro
Morreu Fidel Castro. Numa intervenção televisiva ao final da noite de ontem, o seu irmão e actual líder do regime cubano, Raul Castro, anunciou que Fidel Castro tinha falecido em Havana com 90 anos de idade. Fidel governou o país, como primeiro-ministro, entre 1959 e 1976, e depois como Presidente, entre 1976 e 2008.
Fidel Castro chegou ao poder em Cuba, em janeiro de 1959, após um movimento revolucionário que derrubou o então Presidente Cubano, Fulgencio Batista. Estávamos em plena Guerra Fria, num contexto internacional marcado pela rivalidade entre os Estados Unidos e a União Soviética. Apesar de inicialmente o seu movimento não ser necessariamente pró-soviético ou anti-americano, a verdade é que o novo regime cubano parecia determinado em pôr fim à dependência económica de Cuba em relação aos Estados Unidos e em lançar um programa de diversificação agrícola e de desenvolvimento industrial. Os esforços para levar a cabo este programa entraram naturalmente em choque com os interesses norte-americanos no território, ligados sobretudo à importação de açúcar. A visita de Fidel Castro aos Estados Unidos em 1959 foi encarada com alguma frieza e o Banco Mundial acabou por recusar um pedido inicial para um empréstimo de longo prazo para relançar a economia cubana.
Castro percebeu assim que necessitaria de outros apoios internacionais. No sistema internacional bipolar da altura, a alternativa seria a União Soviética. Assim, em Fevereiro de 1960 Cuba assinou um acordo com a União Soviética tendo em conta a troca de açúcar cubana por petróleo, assistência técnica e outras exportações soviéticas. Entretanto, tinham-se iniciado também as nacionalizações de propriedades e de empresas norte-americanas na ilha. Em julho de 1960, os Estados Unidos decidiram suspender a importação de açúcar cubano e em outubro tem início o embargo económico, comercial e financeiro imposto pelos norte-americanos. Meses depois, o Presidente Dwight Eisenhower cortou oficialmente as relações diplomáticas dos Estados Unidos com Cuba e Fidel Castro proclamou o carácter socialista da revolução cubana, dizendo que a revolução não tinha tempo para eleições.
Nos anos seguintes, os Estados Unidos desenvolveriam diversos esforços para derrubar o regime cubano, quer incentivando grupos locais de resistência ao novo regime, quer organizando, através da CIA, o desembarque na Baía dos Porcos, em abril de 1961. O confronto conheceria uma escalada nos meses seguintes, culminando com o célebre episódio da “crise dos mísseis de Cuba“, em outubro de 1962, quando os norte-americanos se apercebem que a União Soviética estaria prestes a instalar mísseis nucleares de médio alcance em território cubano. O mundo esteve à beira de um confronto nuclear e o episódio só terminaria com um acordo entre as duas super-potências, segundo o qual a União Soviética se comprometia a não instalar mísseis nucleares em Cuba e, em troca, os Estados Unidos acordavam em remover os seus mísseis nucleares da Turquia e em respeitar integridade territorial de Cuba.
Cuba evoluiu para um regime comunista, de partido único, inspirado na ideologia marxista-leninista e converteu-se rapidamente numa referência para o movimento comunista internacional. O embargo norte-americano manteve-se e, apesar da condenação da Organização das Nações Unidas, seria reforçado ao longo das décadas, com o argumento de que o regime cubano violava os direitos, liberdades e garantias dos seus cidadãos. As relações oficiais com os Estados Unidos só viriam a ser retomadas oficialmente durante a presidência de Barack Obama. Em julho de 2015 verificou-se a reabertura das embaixadas dos dois países em Havana e Washington e no ano seguinte, em março de 2016, Obama tornou-se no primeiro presidente americano a visitar Cuba desde a instauração do regime de Castro.
A morte do histórico líder cubano ocorre, por conseguinte, num momento de transição em Cuba, quer sob o ponto de vista interno, com um conjunto de transformações políticas e sociais em marcha, quer sob o ponto de vista das suas relações com os Estados Unidos e, em termos mais abrangentes, da sua inserção no sistema internacional.
Foto: Fidel Castro em Washington D.C., abril de 1959, Foto: Public Domain.
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