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24 MAI | Pensar África: “África em Portugal: Presença e (In)visibilidade”

No próximo dia 24 de maio, às 18h, no Auditório Mário Murteira (edifício Sedas Nunes) do ISCTE-IUL, terá lugar mais um seminário “Pensar África”, desta vez sobre o tema “África em Portugal: Presença e (In)visibilidade“. A entrada é livre.

Sobre o seminário

25 de maio é o Dia de África, data da fundação da então Organização da Unidade Africana e posteriormente instituída para celebrar a luta dos povos africanos por liberdade, soberania e desenvolvimento. Trata-se também de um momento especial de reflexão sobre o lugar da África e dos africanos no mundo.

Seguindo essa lógica, a sessão de maio do “Pensar África – Seminário Permanente de Estudos Africanos”, propõe o debate sobre a África que existe em Portugal, tão presente no quotidiano social e, ao mesmo tempo, quase invisível. Para tal, contaremos com a participação da Prof. Iolanda Évora (ISEG-UL) e do ativista Flávio Almada, integrante da Plataforma Gueto, pessoas envolvidas e atuantes nessa discussão, dentro e fora da Academia.

Quando se fala de “África em Portugal”, que ideias costumam vir à mente? Para as gerações de portugueses mais velhos, talvez as memórias mais frequentes estejam relacionadas com a época colonial. Para as gerações mais novas, as memórias relacionadas à música, à variedade de cores e sabores da culinária africana são mais comuns. São elementos que, de alguma forma, dão um certo toque de exotismo para a multiculturalidade portuguesa.

Qual o lugar de África e dos africanos na narrativa da nacionalidade portuguesa? Mas o que existe de África em Portugal que, já não sendo africano, não é ainda português?

Recentemente, o presidente Marcelo Rebelo de Sousa esteve na ilha de Gorée (Senegal), um grande entreposto do comércio transatlântico de africanos escravizados. A visita gerou grandes expectativas de que o presidente fizesse algum tipo de gesto simbólico de reconhecimento da responsabilidade portuguesa no tráfico negreiro.

No final da visita esse gesto não veio e as expectativas não se concretizaram, mas a fala do presidente foi ilustrativa do modo português de ver a questão: “Quando nós abolimos a escravatura em Portugal, pela mão do Marquês de Pombal, em 1761 (…), essa decisão do poder político português foi um reconhecimento da dignidade do homem, do respeito por um estatuto correspondente a essa dignidade (…) e que nesse momento, ao abolir, aderiu a um ideal humanista que estava virado para o futuro”.

Tal como na narrativa sobre os descobrimentos, o discurso oficial sobre a escravatura em Portugal está construído em torno da missão civilizadora dos lusitanos. Primeiro, retirando os povos primitivos de seu obscurantismo; depois, ao abolir o que o presidente chamou de “práticas injustas”. A declaração do presidente Marcelo reproduz a ideia de que Portugal deu ao mundo mais uma mostra de seu heroísmo e antevisão. A seletividade da memória seleciona os feitos portugueses e mantém as populações escravizadas na obscuridade.

A segunda pergunta nos remete, entre outras coisas, às gerações de indivíduos de origem africana mas sem nacionalidade portuguesa. Pessoas de ascendência africana, mas nascidas e criadas em Portugal e cujos laços com África vão pouco além dos vínculos afetivos herdados dos familiares e cuja nacionalidade, não podendo ser a portuguesa, fica sendo a dos pais. Pessoas que habitam as periferias de Lisboa e seus bairros irregulares, tal como o Bairro 6 de Maio, a Quinta do Mocho e o Bairro da Jamaica. Mesmo tendo nascido aqui, continuam sendo estrangeiros em seu próprio país.

Ao propor o tema África em Portugal: Presença e (In)visibilidade, o Pensar África – Seminário Permanente de Estudos Africanos pretende abrir o debate para essas e outras questões. Discutir o lugar da África e dos africanos na narrativa nacional portuguesa incorre em enfrentar todos os não-lugares aos quais essas duas categorias estão confinadas. A marginalização e a negação da cidadania (e não apenas da nacionalidade) aos afrodescendentes de hoje são atualizações das “práticas injustas” do passado. Já passa da hora de reconstruir essa memória.

CC BY-NC-SA 4.0 This work is licensed under a Creative Commons Attribution-NonCommercial-ShareAlike 4.0 International License.

Mojana Vargas

Research Assistant at CEI-IUL. Ph.D. Candidate in African Studies (ISCTE-IUL); M.A. in International Relations (2009, UNESP/UNICAMP/PUC-SP, Brazil); Undergraduate studies in History (2005, São Paulo University, Brazil).