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A oportunidade que se vai perder

A evocação de uma memória faz-se à custa da sonegação de outra memória. Por isso, pode ser que estejamos perante uma oportunidade perdida: a de olhar para a poluição generalizada provocada pelas emissões de micro-partículas como o verdadeiro “inimigo a combater”, “custe o que custar”.

Continua a espantar-me o silêncio oficial generalizado perante a relação que patologistas e epidemiologistas têm evidenciado entre poluição atmosférica e quadros de imunodeficiência dos doentes internados com sintomas de infecção pela covid-19. Vale a pena olhar para a história para compreender este incómodo silêncio.

Sempre foi para mim um enigma a persistência temporal das celebrações do Dia do Armistício (11 de Novembro), da semana das papoilas à lapela e a ubiquidade dos padrões e estelas nacionais e locais evocativos dos soldados mortos durante a Primeira Guerra Mundial. Só agora começo a entender melhor os motivos desta verdadeira obsessão das entidades oficiais pelo estabelecimento e persistência de tais rituais colectivos e de tais inscrições em pedra que eternizam a memória da Grande Guerra nas paisagens dos centros urbanos europeus.

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As opiniões expressas neste texto representam unicamente o ponto de vista do autor e não vinculam o Centro de Estudos Internacionais, a sua direcção ou qualquer outro investigador.

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Manuel João Ramos

Researcher at CEI. Associate Professor (with Habilitation) at the Department of Anthropology at Iscte. PhD in Anthropology. Head of the Central Library of African Studies. Research Interests: African Studies, Anthropology of the Symbolic and Cognition, Heritage Studies, Horn of Africa.