A zona fértil
Que procura esconder um terrorista que ataca diretamente crianças e jovens? Talvez procure esconder-nos o seu receio de já estar a perder? É possível.
Desde o ataque perpetrado pelo terrorista de extrema-direita Anders Breivik, na ilha norueguesa de Utøya, há seis anos, que não ocorria na Europa um ataque terrorista tendo por objetivo principal assassinar crianças e adolescentes. Esse passo atroz foi franqueado anteontem, em Manchester, no ataque já reivindicado pelos terroristas islâmicos do ISIS, que fez mais de vinte vítimas mortais entre os espectadores de um concerto de pop juvenil.
Não há palavras, e é preciso escrever apesar das palavras que não há. Às vítimas e às suas famílias devemos a tentativa de encontrar algo de justo, algo de apropriado, não para dizer — nisso inevitavelmente falharemos — mas para pensar. Enquanto falhamos em encontrar palavras, o nosso esforço de ao menos procurá-las é um gesto interior mínimo de respeito pelo sofrimento dos nossos próximos. Depois sai o que sai, conforme o que melhor pudermos: uma palavra de solidariedade para com as vítimas ou um palavrão insultuoso contra os criminosos. Mas é preciso tentar.
Quanto ao terrorista, talvez a melhor coisa seja pensar no que ele não nos quer dizer. Digo bem: o que ele não nos quer dizer. O que ele tenta esconder-nos. Todos os terroristas, de uma forma ou de outra, pretendem dizer-nos qualquer coisa. Procurar saber o que é dignificaria o ato deles com um diálogo que eles não merecem. Por outro lado, procurar saber o que nos escondem dá-nos as pistas de que precisaremos para os confrontar.
Leia o artigo completo de Rui Tavares no site do jornal Público.
Manchester's campaign after the terrorist attack on May 22, 2017. Photo by Paul Johnson / CC BY 2.0
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