Principais eleições na Europa em 2018 (I): O regresso de Berlusconi e a permanência de Putin e Orbán
Aspetos como o destaque de partidos de direita radical, conservadores e/ou eurocéticos e a eventual permanência de certos líderes na esfera política europeia, antecipam um ano repleto de eleições que constituirão momentos chave para o futuro da Europa e da União Europeia. O presente artigo, que está inserido num conjunto de três sobre as eleições europeias, apresenta os principais atores e partidos das eleições na Itália, Rússia e Hungria.
Itália (4 de março)
Desde que foi aprovada, em outubro do ano passado, a nova lei eleitoral italiana que dá preferência à criação de coligações que está envolta em controvérsia. Esta situação deve-se, em grande medida, às reivindicações lançadas pelo MoVimento 5 Estrelas (M5E) que, pela sua génese anti partidária, se recusa a formar alianças com os ditos partidos tradicionais. Estes protestos ganham relevo à medida que as sondagens colocam o M5E à frente das intenções de voto, podendo, assim, emergir como o maior partido – de acordo com os últimos dados recolhidos, já em janeiro de 2018, pelo Instituto EMG, a percentagem ronda os 27%.
No que diz respeito ao partido liderado pelo atual primeiro-ministro Matteo Renzi, o Partido Democrático (PD), as sondagens mostram que este tem vindo a perder apoio, estando em segundo lugar com 24%. Para além disto, Silvio Berlusconi com o seu regresso ao centro da política italiana, com o partido de centro-direita Força Itália (FI), introduz uma variável importante para que seja possível prever o pós-eleições.
Tendo em conta essas mesmas sondagens, e com as novas regras eleitorais, é possível que o FI, a Liga [Liga Norte – partido de direita regionalista, anti-imigração] e FDI [Irmãos de Itália – Aliança Nacional – partido de direita nacionalista, conservador e eurocético] se consigam aliar, atingindo uma maioria confortável de 40% que lhes permita governar em coligação. Contudo, os principais analistas consideram que há vários cenários possíveis no pós-eleições de 4 de março, já que as alterações ao sistema eleitoral podem produzir várias surpresas ao longo do processo.
Rússia (18 de março)
Com Alexei Navalny, principal rival político de Vladimir Putin, impedido de concorrer às eleições por acusações de desfalque, o presidente russo prepara-se para ser reconduzido por mais um termo. Entre primeiro-ministro e presidente, Putin, de 65 anos, está a passos largos de se tornar o líder russo mais antigo desde o ditador soviético Estaline, ao ser, há quase 18 anos, a figura central da política russa. Para confirmar tal tendência, de acordo com um centro de sondagens independente, o Levada Centre, os seus níveis de aprovação continuam acima dos 80%.
De acordo com o Politico, outra das figuras a atentar nestas eleições é Ksenia Sobchak. Com vínculos passados a Putin, muitos analistas especulam que a sua candidatura é apenas um truque por parte do Kremlin, de forma a enfraquecer a oposição de Navalny e de dar legitimidade às eleições. Apesar destas alegações, Putin conta desde já com o apoio de dois partidos, preparando-se, assim, para continuar à frente dos destinos do país pelo menos até 2024.
Hungria (8 de abril)
Os húngaros vão ter a oportunidade de votar para o parlamento nacional no início de abril, numa eleição onde, à partida, se destacam dois partidos. O primeiro, o Fidesz – União Cívica Húngara, liderado pelo atual primeiro-ministro Viktor Orbán, que exibe tendências de direita populista-nacionalista. O segundo, o Jobbik – Movimento por uma Hungria Melhor, que se apresenta como um partido conservador, cristão e nacionalista, autointitulado de direita radical, rejeitando, assim, a expressão ‘extrema direita’.
De acordo com as sondagens lançadas pelo site Kozvelemenykutatok.hu, o Fidesz está à frente das intenções de voto com 35%, e o Jobbik em segundo lugar com 16%. Os esforços para alavancar o apoio a este último têm vindo até de partidos de esquerda que, almejando a saída de Orbán, equacionam uma ponte entre os dois espectros políticos. Para além disso, o próprio partido está a tentar distanciar-se do seu passado mais extremista.
Contudo, um alegado apoio financeiro ilegal à campanha, que pode resultar numa multa de mais de €2 milhões (660 milhões de florins) pode deitar por terra qualquer esperança que o Jobbik possa ter de se colocar numa posição de destaque, capaz de desafiar a liderança de Orbán. Por fim, com o objetivo de recuperar os dois terços da maioria parlamentar – que permite alterações à Constituição -, o atual primeiro-ministro tem procurado captar os votos dos cidadãos húngaros dentro e fora da Hungria, com uma campanha para além do território nacional.
Photo by Arnaud Jaegers / Public domain
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