Cadernos de Estudos Africanos nº33: Escravidão, Trabalho Forçado e Resistência na África Meridional
O número mais recente da revista Cadernos de Estudos Africanos é dedicado ao tema da “Escravidão, Trabalho Forçado e Resistência na África Meridional”, organizado por Sílvia Hunold Lara (UNICAMP), Lucilene Reginaldo (UNICAMP) e por José C. Curto (Universidade de York). Os artigos que compõem este dossier temático são o resultado de trabalhos apresentados no Seminário Internacional Cultura, Política e Trabalho na África Meridional, evento que teve lugar na Universidade Estadual de Campinas em maio de 2015.
Os artigos do dossier temático
O primeiro artigo deste dossier tem como título “Ajustar à Forma do Viver Cristão”. Missão Católica e Resistência em Terras Africanas, no qual Carlos Almeida (Universidade de LIsboa) discute as formas de penetração do catolicismo nas sociedades africanas, analisando a ação missionária de religiosos capuchinhos entre os séculos XVII e XVIII e a resistência das sociedades à ação católica.
Por seu turno, Luís Frederico Dias Antunes (Universidade de LIsboa) em, Formas de Resistência Africanas às Autoridades Portuguesas no Século XVIII: A guerra de Murimuno e a tecelagem de machiras no norte de Moçambique, reflete sobre os movimentos de resistência à dominação colonial e comercial em Moçambique, exemplificando com o caso do ataque, por parte de chefaturas macua, ao corpo expedicionário português em 1753, e com o caso da resistência à introdução dos têxteis indianos e manutenção das formas locais de produção de machiras.
Maria da Conceição Neto (Universidade Agostinho Neto), no seu artigo De Escravos a “Serviçais”, de “Serviçais” a “Contratados”: Omissões, perceções e equívocos na história do trabalho africano na Angola colonial, apresenta um importante contributo no processo de conceptualização do trabalho forçado ao serviço da economia colonial, olhando através da história de Angola. A autora traça um caminho através das diferentes formas assumidas pelo trabalho forçado, privilegiando os sujeitos “ainda na margem da história do trabalho africano em Angola”.
Em Para Compreender a “Escravidão Moderna”: Vozes dos arquivos, Eric Allina (Universidade de Otava) recorre à historiografia para debater sobre o conceito de “escravidão moderna” em Moçambique, problematizando-a com formas “antigas” de trabalho forçado. O texto procura questionar noções de trabalho “livre” em ambiente de repressão colonial, bem como o papel de alguns atores em relação à escravidão.
Jelmer Vos (Old Dominion University), em Império, Patronato e uma Revolta no Reino do Kongo, destaca a rutura das relações clientelares entre os governantes do Kongo e o Estado colonial Português, e da qual resultou na revolta dos povos do Kongo contra o seu rei, por rutura da relação de confiança no monarca.
Fecha o dossier temático o artigo Equilibrios no Terror: Trabalho forçado, fuga e continuidades clandestinas no Congo-Brazzaville, 1918-1968, no qual Alexandre Keese (Universidade de Genebra) analisa as estruturas de terror que predominaram no Médio Congo Francês durante e após o período colonial e do forte impacto que esta violência teve no enfraquecimento da influência colonial portuguesa na região.
Outros artigos deste número
Integram ainda este número 33 da revista Cadernos de Estudos Africanos o artigo Importância do Caminho de Ferro de Benguela para o Desenvolvimento Regional, dos autores André Tchoia Relógio, Fernando Oliveira Tavares e Luís Pacheco e o artigo La Médiation Stato-centrée em Afrique: Entre l’imperatif de la transformation des conflits politiques violents et la nécessité de la préservation des intérêts, do autor Sali Bouba Oumarou.
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