Espanha, Catalunha, nacionalismos e terrorismo
Os atentados na Catalunha expuseram de forma particularmente violenta a fractura entre as autoridades espanholas e catalãs. É urgente uma reflexão sobre o modelo de (não) convivência instalado.
Baltazar Garzón, em artigo publicado há dias no El País, chamava a atenção para a falta de diálogo entre as autoridades espanholas e catalãs em matéria de prevenção e combate ao terrorismo. O antigo juiz da Audiência Nacional (tribunal central espanhol responsável pela investigação e julgamento deste tipo de criminalidade) referia-se especificamente à ausência de reuniões da Junta de Seguridad Catalana, órgão de coordenação entre o Ministério do Interior de Espanha e o Departamento do Interior do governo catalão.
Os atentados de Barcelona e de Cambrils expuseram de forma particularmente violenta a fractura entre as autoridades espanholas e catalãs. Por um lado, a crise económica lançou os nacionalistas moderados catalães numa deriva independentista que colocou as instituições autonómicas à beira da ruptura com o Estado central. Por outro lado, o imobilismo e a insensibilidade que caracterizam a acção governativa de Mariano Rajoy não lhe permitiram compreender que os catalães estariam a chegar ao limite perante a ausência de uma reforma fiscal que lhes permitisse gozar de mais autonomia.
A Catalunha é a região que mais contribui para o Produto Interno Bruto espanhol e ao peso que tem na economia não corresponde uma efectiva capacidade de gestão dos seus recursos.
À medida que os dias passam, vai-se tornando mais evidente que algo terá funcionado mal em termos de prevenção e de coordenação. Por agora, sabemos que a imprensa, ao longo dos últimos anos, foi dando nota da iminência de um atentado na Catalunha. Num pequeno artigo publicado no site do Real Instituto Elcano, em Abril de 2015, Fernando Reinares e Carola García-Calvo alertavam para o facto de 33,3% dos condenados por terrorismo islamista em Espanha ter sido detida nesta região espanhola. Algo terá falhado para que mais de dez pessoas tenham sido recrutadas e uma célula constituída e para que uma acção de grandes proporções possa ter sido projectada (ao que parece incluía a explosão de dezenas de garrafas de gás), falhado e implementada uma alternativa que provocou quinze mortes.
Leia o artigo completo no site do jornal ECO.
Park Güell, Barcelona. Photo by MacPepper / CC BY-NC-SA 2.0
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