Fernando Jorge Cardoso sobre as relações UE-África: Dinheiro é o pecado mortal
As cimeiras Europa-África constituem “uma espécie de sucursal do Acordo de Cotonu”, pois contam com uma estrutura de decisão daí copiada, prosseguindo-se com o “pecado mortal” em que os europeus dão dinheiro e os africanos recebem-no.
A “constatação” foi feita pelo académico português Fernando Jorge Cardoso que, numa entrevista à agência Lusa salientou que as cimeiras, tal como a que está marcada para 29 e 30 deste mês em Abidjan, a quinta, “são reuniões entre parceiros que não são iguais e que fazem de conta que são iguais”.
“Por mais semântica que se encontre para as cimeiras, por mais que discutam questões políticas, diplomáticas, de segurança, de comércio, enfim, questões globais, (…) na prática, tudo se resume a discutir o acordo financeiro. Ou seja, quanto dinheiro existe para o conjunto e para cada um dos países relativamente aos projetos que, entretanto, foram sendo preparados e acordados entre técnicos das duas partes”, frisou.
Depois, prosseguiu o investigador do Centro de Estudos Internacionais do ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa, os chefes de Estado e de Governo, depois das declarações formais e dos discursos habituais, “acabam por se preocupar apenas com quanto dinheiro podem contar” para o próximo, biénio, triénio, quinquénio.
“Isto é um pecado mortal que ainda não foi resolvido e, enquanto não for, o tipo de relacionamento que existe entre a Europa e África é subordinado, é um baseado em ressentimentos, baseado em: “quanto é que me dás? Afinal de contas devias ter-me dado mais, afinal de contas não me deste o que tinhas prometido”, etc…”, defendeu.
Fernando Jorge Cardoso destacou que tal não acontece nas reuniões da Europa com a América Latina ou do Norte e da Ásia, em que se debatem “problemas comuns.
“Inquina completamente e é algo que existe desde o período de descolonização, apesar de todas as mudanças de semântica ao longo do tempo”, referiu, indicando que a culpa não é da Europa, mas “principalmente dos dirigentes e das elites africanas”.
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