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França: O Comércio Externo e os Novos Desafios da Política Comercial

A desacelaração do comércio externo francês

Os dados do comércio externo francês, referentes ao ano de 2016, foram anunciados há dias e causaram algumas preocupações nos meios económicos e empresariais locais. Com efeito, as exportações francesas de bens diminuíram 0,6%, quando em 2015 haviam crescido 4,4%, e também é a primeira vez, nos últimos quatro anos, que se regista um aumento do déficit comercial de bens, tendo este atingido um valor de 48,1 mil milhões de euros, ou seja mais 2,5 mil milhões de euros que no ano de 2015. Em termos comparativos, a Alemanha apresentou, no mesmo período, um excedente comercial de 252,9 mil milhões de euros.

De acordo com o governo francês, o comércio externo do país foi penalizado, em 2016, por um conjunto de circunstâncias e de fatores conjunturais, nomeadamente a queda da produção e dos preços mundiais de cereais e os problemas na cadeia de valor da Airbus, com atrasos nos fornecedores, que originaram vários adiamentos nas entregas de aviões.

Propostas para dinamização do comércio externo

Para melhorar a competitividade do comércio externo francês são propostas e defendidas medidas de modernização e de adaptação do dispositivo público de apoio às exportações para responder aos desafios da concorrência internacional (apesar disso, desde 2011, cerca de 8 000 empresas francesas iniciaram as suas operações de exportação) e também um maior protagonismo deste país (também) à escala europeia na redefinição da estratégia, das regras e dos mecanismos da política comercial da União Europeia, no quadro das transformações provocadas pelo Brexit e pela nova estratégia comercial de cariz fortemente protecionista da administração Trump.

Uma nova política comercial para melhorar a competividade global do país

Num trabalho recente precisamente sobre a necessidade de ser repensada a política comercial francesa, Laurence Daziano da Fondation pour l’Innovation Politique, refere que na origem da degradação da balança comercial francesa, sobretudo a partir do ano 2000, está a perda da competitividade global do país causada, fundamentalmente, pela rigidez do mercado de trabalho, especialização industrial existente, concentração geográfica das exportações, desindustrialização e envelhecimento do aparelho produtivo local. Face a este contexto, a referida autora, defende um refundação da politica comercial francesa que deve estar no centro da estratégia de crescimento e desenvolvimento económico do país, e que deverá passar pela implementação de um conjunto de medidas, nomeadamente (i) a modernização da politica comercial e uma maior atenção mais aos novos desenvolvimentos geoestratégicos mundiais, (ii) a abertura de novas rotas comerciais, sobretudo nos mercados emergentes, (iii) a reforma do sistema de apoio governamental e administrativo do comércio externo francês, (iv) o desenvolvimento de uma nova politica de desenvolvimento industrial que permita conciliar a “nova economia” e a “velha economia”, (v) e o implementação de medidas e instrumentos que permitam estimular as exportações e a alargar o numero de empresas, sobretudo pequenas e médias, exportadoras.

Em síntese, diríamos que as rápidas mudanças e transformações na economia mundial e nas empresas multinacionais têm tido efeitos relevantes na economia e nas empresas francesas que devem obrigar a uma constante avaliação e redefinição das políticas públicas nas áreas do comércio e do investimento internacionais e também a novos posicionamentos das empresas gaulesas nos mercados internacionais.

Croix-des-Petits-Champs street (Paris), 1914. Photo by Bibliothèque Nationale de France / Public domain

 

CC BY-NC-SA 4.0 This work is licensed under a Creative Commons Attribution-NonCommercial-ShareAlike 4.0 International License.

Rui Paulo Almas

Researcher at CEI. PhD in Global Management, Strategy and Entrepreneurship (Iscte). Country Diretor France at AICEP Portugal Global. Former invited lecturer at Universidade Europeia and Universidade Lusíada and former invited trainer at INA – Direcção Geral da Qualificação dos Trabalhadores em Funções Públicas.