O ataque ao nosso futuro em Manchester

Não nos podemos habituar. Não nos podemos intimidar. Não podemos aceitar. Não podemos considerar como mais um ataque. É, e continuará a ser, uma barbaridade inaceitável. Contra jovens e crianças é um ataque contra o futuro, não só dos Britânicos, os nossos mais antigos aliados, como do nosso próprio futuro.

Não sei, à hora que escrevo, quem o fez, porque o fez e quem instigou. Mas tenho a certeza de quem está muito satisfeito com mais esta barbaridade: o Daesh. Na sua última revista mensal de propaganda, a Rumiyah (ou Roma) nº 9, publicada em 5 deste mês, a narrativa indicava que estes ataques se adaptam àquilo que as lideranças do Daesh têm vindo a pedir. Nesta revista o Daesh mostra o orgulho que sente pelos ataques ocorridos em Paris, em Londres, em Nice, em Berlim, em Orlando e relembra, nas duas últimas páginas, como é fácil executar os mesmos. Como se de um “menu” se tratasse, com o título “simples táticas” apresentam formas simples de usar um camião ou um carro contra alvos públicos (concentrações, eventos, mercados, passeios pedestres, etc.). Pior, umas páginas antes, apelam ao rapto de cidadãos para serem usados como reféns. Pior ainda, logo no início da revista, rejubilam-se com os ataques efetuados contra os Cristãos Coptas do Egipto e lançam um ataque feroz contra todos os Judeus e os Cristãos.

Se recuarmos às revistas dos dois meses anteriores, a 7 e a 8, a mensagem começa a ser clara. O Daesh, antecipando a perda territorial no Iraque e na Síria, vai avisando os seus seguidores para serem “pacientes” (ver página 26 da Rumiyah nº 9), para matarem e roubarem os não crentes dos EUA e da Europa (Rumiyah nº 8) e não desesperarem com as “aparentes perdas” em combates no Médio Oriente. A mensagem é de ódio, de desprezo, e de apelo a mais ataques … por quem? Tanto lhes faz. Para o Daesh é indiferente que seja um radical convicto ou um psicopata com vontade de matar ou um perturbado que apenas procurar reconhecimento através da sua morte na morte de muitos mais. O Daesh até pode nada ter a haver com este ataque mas, garantidamente, vai tentar explorar a dor provocada, a repulsa transmitida e a ignomínia sentida por um mundo, mais uma vez, em choque.

A dor de ver tantas crianças e jovens mortas e feridas sem piedade é profundamente revoltante. Lembra o ataque feito contra os refugiados Sírios há menos de um mês, no qual a maioria das vítimas foram crianças e mulheres. Não se pode permitir, não se pode aceitar. Nem na Síria nem em Manchester. Não.

Em Manchester, as Forças de Segurança e a emergência médica fizeram um trabalho excecional. Mostraram ao mundo que as pessoas estão primeiro e que estão prontos a morrer pela defesa dos seus concidadãos. Não são pessoas que se deixam morrer para matar. Não! Os valores universais na defesa da pessoa humana, que não discrimina nem idade, nem sexo, nem religião nem região, são pela defesa da vida. Os bravos, como vimos nas imagens muito afetados pela carnificina, polícias, médicos, enfermeiros, socorristas, limparam as suas lágrimas e tentaram salvar e proteger o máximo número de crianças e jovens depois da bestialidade cometida. Mostraram que os verdadeiros valores são o de estar pronto a morrer na defesa da vida humana e não pela morte de inocente e jovens.

Querem matar o futuro. Estão enganados. Estamos hoje, com os nossos mais antigos aliados, prontos a dizer que, aqui em Portugal ou no Reino Unido, protegemos e lutamos pela segurança de todos, sempre foi e sempre assim será! Podiam ter sido os meus filhos e foram filhos de outros como nós. O meu maior respeito e solidariedade às famílias em luto.

 

Manchester Arena. Photo by  Paul GillettCC BY-SA 2.0.

CC BY-NC-SA 4.0 This work is licensed under a Creative Commons Attribution-NonCommercial-ShareAlike 4.0 International License.

Nuno Lemos Pires

Researcher at CEI-IUL. Professor at the Portuguese Military Academy (PMA). Ph.D. in History, Defence, and IR (ISCTE-IUL and PMA); M.A. in Military Sciences (PMA). Guest lecturer at ISCTE-IUL, U. Nova, IESM, IDN. Professor of Military History and IR at IAEM and AM; Intelligence Officer at NATO / Rapid Deployable Corps (Spain).

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