O embaixador e o problema da EDP: a tensão entre a China e os EUA
Houve quem tenha vindo defender a honra da pátria face a uma entrevista do embaixador dos EUA. Eu fico satisfeito que a diplomacia norte-americana nos dê suficiente importância para nos pressionar.
O diretor do Público, Manuel Carvalho, foi um dos que ficou indignados por o embaixador dos EUA, George E. Glass, terem alegadamente tratado Portugal como uma “república das bananas”. Também não faltou quem tivesse atribuído a pressão pública do embaixador para Portugal lidar com a “questão chinesa” aos excessos ideológicos de Trump que o nomeou. Não se justifica essa indignação ou essa avaliação. Eu, pelo contrário, estava a ficar preocupado com a falta de pressão pública norte-americana a Portugal sobre este tema, por contraste com outros países europeus.
Um embaixador político, como são todos
Não me parece que o embaixador Glass possa ser caraterizado, até agora, como um ideólogo que tenha interferido na política interna portuguesa. Uma acusação que é feita, com alguma justificação, a alguns dos seus colegas noutros países europeus. O embaixador exerce as suas funções por nomeação política do presidente Trump, mas essa é a regra na nomeação de embaixadores norte-americanos. O seu antecessor em Lisboa também tinha contribuído ativamente para a eleição do presidente Obama. Aliás, o MNE Augusto Santos Silva várias vezes elogiou publicamente o papel positivo do embaixador Glass nas relações bilaterais.
Não me parece que um leitor liberto de excessos patrioteiros possa ler a entrevista ao Expresso do embaixador norte-americano sem concluir que este dá, até, respostas bastante diplomáticas. Ignora diplomaticamente as declarações de António Costa sobre uma eventual reeleição de Trump. É diplomaticamente vago sobre os custos de uma postura portuguesa que não tenha em conta as mudanças na geopolítica e na geoeconomia global por via da crescente tensão entre Pequim e Washington. Mas deixa diplomaticamente entender que isso terá reflexos na troca de informações classificadas, e terá custos para as empresas portuguesas controladas por empresas estatais chinesas.
Portugal ainda importa aos EUA?
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As opiniões expressas neste texto representam unicamente o ponto de vista do autor e não vinculam o Centro de Estudos Internacionais, a sua direcção ou qualquer outro investigador. Sede da EDP Portugal / foto de jaime.silva / CC BY-NC-ND 2.0
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