O Impacto das Eleições Presidenciais Norte-Americanas nas Relações Transatlânticas
A maior potência do mundo
As eleições presidenciais nos Estados Unidos têm sempre um impacto significativo no sistema internacional. Os Estados Unidos continuam a ser a maior potência do mundo. Apesar da ascensão da China e do atenuar da uni-polaridade no sistema internacional, a superioridade norte-americana e a sua capacidade de influenciar os assuntos internacionais continua a manifestar-se em termos políticos e militares, em termos económicos e comerciais e até em termos culturais e ideológicos.
No caso particular das relações transatlânticas, isto é, entre os Estados Unidos e a União Europeia, existem duas áreas fundamentais relativamente às quais vale a pena acompanhar o debate presidencial norte-americano, procurando perceber se os resultados das eleições de 2016 poderão trazer alguma mudança significativa.
As relações transatlânticas
Em primeiro lugar, no domínio da defesa. Em 1949, no contexto da Guerra Fria, os Estados Unidos estabeleceram uma aliança militar com os principais países europeus, através da criação da NATO e da consolidação de uma presença militar permanente em solo europeu, através das bases militares norte-americanas. Desde então, têm sido os norte americanos assumir a defesa da Europa, uma vez que são os principais contribuintes da NATO. O início da grande recessão de 2008 marcou o início de uma alteração neste paradigma, com uma gradual redução do dispositivo norte-americano na Europa. Doravante, os Europeus teriam “peace without money, war without Americans.”
A outra componente fundamental do relacionamento transatlântico é a económica e comercial. Os Estados Unidos e a União Europeia são ainda os dois principais blocos económicos do mundo e as suas economias juntas representam cerca de metade do PIB mundial. Os países da União Europeia, no seu conjunto, são o segundo maior destino das exportações norte-americanas e o segundo maior fornecedor de importações para os Estados Unidos. Foi neste contexto que adquiriram especial relevo, desde 2013, as negociações para a celebração de um tratado transatlântico de comércio livre, o chamado TTIP.
As posições dos candidatos
Perante estas duas questões magnas para o futuro das relações entre os Estados Unidos e a União Europeia, como se têm posicionado os dois candidatos à presidência? Numa linha mais isolacionista, Donald Trump ameaçou já com a redução da presença militar americana na Europa e na Ásia, caso os aliados não estejam dispostos a pagar um preço maior por essa mesma presença. Indicou igualmente que, consigo na Casa Branca, os americanos apenas irão auxiliar as nações que cumpram as suas “obrigações” para com os Estados Unidos. Hillary Clinton, pelo contrário, representa uma posição mais consentânea com a tradição internacionalista e multilateralista, tendo afirmado que a NATO é um dos melhores investimentos de sempre feito pelos Estados Unidos.
No que diz respeito à dimensão económica da relação transatlântica, Donald Trump manifestou-se contra a liberalização excessiva do comércio internacional e contra os dois grandes acordos que a administração Obama tem vindo a negociar: o TTIP e o seu equivalente para o Pacífico, o TPP. Já Hillary Clinton, começou por definir o TTIP como uma “NATO económica” para, hoje em dia, declarar a sua oposição a qualquer acordo que possa por em causa postos de trabalho nos Estados Unidos, fazendo eco, aliás, das posições assumidas por Bernie Sanders durante as primárias.
A incerteza do futuro
A verdade é que estamos ainda no período de campanha eleitoral. Os dois candidatos podem ainda alterar a sua posição, caso o considerem favorável em termos eleitorais. Uma vez eleitos também tenderão a adaptar as suas propostas políticas aos contextos e conjunturas políticas e económicas que se alteram com o decurso do tempo.
Tanto quanto podemos aferir nesta fase, a dois meses do acto eleitoral, a eleição de Trump poderia significar o reforço do retraimento estratégico dos Estados Unidos e, consequentemente, da sua postura militar na Europa, bem como a adopção de políticas proteccionistas em termos do comércio internacional. Já Hillary Clinton defende a continuidade da aliança entre os Estados Unidos e a Europa, embora, relativamente aos dois tratados de comércio internacional, tenha já manifestado algumas reservas. Por fim, não esqueçamos que, de acordo com o sistema político norte-americano, estas são matérias acerca das quais o futuro Congresso (com uma nova Câmara dos Representantes e 34 Senadores a eleger em Novembro) terá uma palavras decisiva a dizer.
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