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O último dia normal de Jan Karski

Um dia, quando houver vontade política para criar um pequeno currículo comum europeu, o livro de Karski deveria ser leitura geral.

O último dia normal da vida de Jan Karski foi um dia como este. Pelo calendário, teria calhado anteontem: 23 de agosto. Só que o ano era 1939, e a cidade Varsóvia. Jan tinha 25 anos e era amigo de um português — filho do embaixador de Portugal na Polónia, César de Sousa Mendes, e portanto sobrinho de Aristides de Sousa Mendes — que o convidara a ir a um baile da embaixada do seu país. Jan ficou encantado com uma das filhas do embaixador. Ao chegar a casa nessa noite, um dos seus planos para a semana seguinte seria levar a jovem portuguesa a almoçar com um grupo de amigos.

De madrugada, Jan Karski foi acordado por um destacamento do Exército polaco. Foi-lhe anunciado que a invasão alemã estava iminente e que ele faria parte de uma mobilização secreta, a única autorizada pelos aliados franceses e ingleses (uma mobilização geral seria “provocatória” para Hitler). Jan Karski foi enviado para uma cidadezinha agradável que frequentara em anos felizes — Oswiecim — mais tarde conhecida pelo seu nome em alemão: Auschwitz.

A resistência polaca em Oswiecim durou pouco; Karski e os seus camaradas de armas foram forçados a retirar para o leste da Polónia. Quando chegaram, descobriram que essa metade do país seria anexada pelas tropas de Estaline (o protocolo secreto do Acordo Molotov-Ribbentrop, através do qual Hitler e Estaline partilharam entre si a Polónia, fora assinado em Moscovo na mesma noite em que Karski bailara e namoriscara na embaixada portuguesa em Varsóvia). Karski foi incluído numa troca de prisioneiros e com isso escapou ao massacre das elites militares polacas na Floresta de Katyn. De novo no lado alemão, Karski fugiu lançando-se por uma janela de um comboio de mercadorias quando o transportavam para um campo de concentração.

Leia a crónica completa de Rui Tavares no site do jornal Público.

Jan Karski bench in Warsaw. Photo by Adrian Grycuk / CC BY-SA 3.0 PL

CC BY-NC-SA 4.0 This work is licensed under a Creative Commons Attribution-NonCommercial-ShareAlike 4.0 International License.

Rui Tavares

Researcher at CEI-IUL. PhD in History (École des Hautes Études en Sciences Sociales, Paris). Member of the European Parliament and rapporteur for refugee and human rights issues in Hungary (2009-14). Research interests: History; Portuguese cultural and political history; European Union history and theory.