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Pobre Brasil

A destituição de Temer não é um dado adquirido e as suas consequências são imprevisíveis.

Quando pensamos que o Brasil “tocou no fundo”, descobrimos sempre que a queda pode ser ainda maior. No início de 2015, tornava-se evidente que a economia brasileira estava em queda e que o longo ciclo de crescimento e de distribuição da riqueza chegara ao fim. O ano seguinte foi o da crise política, com a destituição de Dilma Rousseff a pôr a nu a falência do sistema político brasileiro e a incapacidade de auto-regeneração das instituições.

Em paralelo, a “Lava-Jato”, a mais vasta operação policial e judicial da história da democracia brasileira, ceifava os vários partidos do país e tornava oficial o que há muito era informalmente dado por adquirido: a corrupção está profundamente enraizada na gestão pública brasileira, tem relações íntimas com as grandes empresas privadas do país e é politicamente transversal. Num primeiro momento, os procuradores baseados no estado de Curitiba pareciam estar sobretudo concentrados no Partido dos Trabalhadores e no seu líder histórico, o antigo presidente Luís Inácio Lula da Silva.

Dilma Rousseff foi, entretanto, substituída por Michel Temer que alterou a base política de apoio do governo, procurando implementar um plano de reformas considerado pelos sectores liberais como essencial à recuperação económica. A popularidade de Temer foi, desde o início, inferior à de Dilma, mas a grande aposta dos que o apoiavam residida na sua capacidade de fazer aprovar medidas que revertessem, num curto espaço de tempo, a inflação e que restituíssem alguma credibilidade ao Brasil nos mercados. Nada disto funcionou: as reformas estão dependentes das mesmas instituições políticas que trouxeram o Brasil até esta crise e têm elevados custos políticos para deputados e senadores que as aprovem, o que, na prática, as congela.

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Protesto anti-Temer. Photo by Bruno Henrique / CC BY-SA 2.0

CC BY-NC-SA 4.0 This work is licensed under a Creative Commons Attribution-NonCommercial-ShareAlike 4.0 International License.

Filipe Vasconcelos Romão

Associate Researcher at CEI-IUL. PhD in IR (Univ. Coimbra). Advanced Studies Diploma in International Politics and Conflict Resolution (Univ. Coimbra). Guest Professor at ISCTE-IUL. Professor at UAL. President of the Portugal - South Atlantic Commerce Chamber.