“Poker” de Angela Merkel: As eleições legislativas alemãs na imprensa internacional

Angela Merkel continuará a ser a Chanceler alemã por mais quatro anos. Às 22h do dia 24 de Setembro de 2017, Merkel tinha quase 33% dos votos, longe dos 41,64% e dos 311 lugares obtidos em 2013, no entanto a grande vitória foi da Alternative für Deutschland (AfD), o partido de extrema-direita que deverá conseguir pelo menos 13% dos votos dos eleitores. Já Martin Schulz, líder do SPD e antigo presidente do Parlamento Europeu, foi o derrotado da noite, com uma percentagem de votos a rondar os 20%, o que o fará perder cerca de 40 assentos no Bundestag. A Reuters fez um (extremamente necessário) apanhado das reacções dos partidos alemães ao resultado eleitoral para compreendermos o próximos passos de Merkel, ao passo que o Financial Times destaca o efeito das eleições no Euro. Leia aqui as declarações de alguns dos líderes mundiais.

PORTUGAL

O Observador pede que não subestimem a Chanceler alemã, mesmo quando a vitória é amarga, já o jornal Expresso dá destaque à “fuga” de votos para os extremos do espectro político. O Diário de Notícias refere que Merkel acredita conseguir formar coligação até ao final do ano, isto depois de Schulz se recusar a coligar novamente, destaca o Público. Neste sentido, o Jornal Económico dá-nos uma boa explicação no que diz respeito à possível coligação que sairá destas eleições: a coligação Jamaica.

ESPANHA

Tanto o jornal El País como o El Mundo destacam, acima de tudo, a ascensão da AfD, partido que está presente em 13 das 16 regiões alemãs. O primeiro apelida-a de “indispensável“, alguém que “desafia a lei da gravidade política” e o último jornal relembra o medo de se repetir a história.

FRANÇA

A France 24 dá destaque à vitória da CDU mas não esquece a ascensão do partido de extrema-direita, fantasma que também assolou o país este ano. O jornal Le Figaro põe Angela Merkel no pódio da longevidade à frente de um país: no final deste mandato, terá chefiado a Alemanha durante 16 anos. Já o jornal Le Monde fala num vitória a meio-tom e cheia de desafios, sejam eles a formação de uma nova coligação ou a entrada no parlamento da extrema-direita.

ALEMANHA

O Welt faz uma análise à proveniência dos votos que a AfD conquistou e parabeniza o aumento da participação eleitoral: a Alemanha teve uma abstenção inferior a 25% nestas eleições legislativas. Destaque do Der Spiegel para a fraca campanha do SPD, o que resultou no maior fracasso do partido desde 1949. No caso do Die Zeit, o jornal faz duas análises: a primeira ao futuro da liderança da CDU e a segunda ao futuro do SPD enquanto segunda maior força política.

REINO UNIDO

Com um artigo apenas para subscritores, o Financial Times é mais um dos jornais a dar destaque à chegada da AfD ao Bundestag. A BBC segue a mesma linha, congratulando Angela Merkel pela quarta vitória consecutiva enquanto Chanceler da Alemanha. O The Guardian sublinha a nova problemática de Merkel (formar uma coligação ou governar em minoria?), enquanto o The Independent tem um pequeno artigo sobre a AfD ter excedido todas as expectativas.

ESTADOS UNIDOS

Destaque da ABC News e da CNN para a vitória de Merkel e o fantasma que a perseguirá durante os próximos quatro anos, enquanto o jornal The New York Times relembra que não foi só a Chanceler quem fez história nestas eleições legislativas. O The Washington Post refere que, apesar da vitória, a CDU perdeu o apoio do SPD e a confiança dos eleitores.

Começam quatro anos de diplomacia interna ao mais alto nível para Angela Merkel. Sem a maioria absoluta, a Chanceler alemã terá de formar uma coligação com outro partido que não o SPD, restando-lhe apenas como opções os ecologistas Die Grünen (Verdes) ou os liberais do Freie Demokratische Partei (FDP). A existência de um partido de extrema-direita no Bundestag é uma novidade, algo que não acontecia desde a Segunda Guerra Mundial e que traz à memória uma Europa em guerra e uma Alemanha nazi.

Conseguirá Merkel, sucessora de Barack Obama como líder do mundo livre, manter o seu país unido de forma a manter o projecto europeu vivo?

Photo by European People's Party / CC BY 2.0

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Mónica Canário

Research Assistant at CEI-IUL. Ph.D. Candidate in Political Science, specialisation in International Relations (ISCTE-IUL).

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