Por uma América forte, segura e orgulhosa…!
Donald Trump e o seu primeiro Estado da União
Era este o mote do primeiro discurso do Estado da União de Donald Trump e, em cerca de 1 hora e vinte minutos, o atual Presidente dos EUA não deixou de fazer vincar a sua leitura sobre o primeiro ano de mandato em forma de prestação de contas.
Trump não poupou elogios quando reclamou para si as vitórias conseguidas no último ano: a maior redução de impostos e reforma fiscal de sempre; o nível de desemprego nos 4,1%, o nível mais baixo dos últimos 45 anos e dos últimos 10 anos entre as comunidades afro americana e hispânica; a criação de 2,4 milhões de empregos, 200 mil só no sector da manufatura; maior confiança dos mercados; o alívio da classe média e pequenas empresas; a revogação do Obamacare e o regresso de empresas da industria automóvel como a Mazda ou Chrysler aos EUA.
Também não poupou elogios à resiliência dos americanos, destacando da assistência a história de vários heróis presentes, para ilustrar os desafios que os americanos enfrentam e sempre ultrapassam!
Prioridade: Política interna
Num discurso em que a política interna ocupou mais de metade do tempo da sua intervenção, Trump dirigiu-se ao Congresso para pedir mais fundos para colocar em prática um plano de investimento público em infraestruturas, para investir na formação e abertura de escolas profissionais de natureza vocacional, para baixar o preço dos medicamentos prescritos e para reforçar a luta contra o que Trump denomina de epidemia das drogas.
América Latina, Médio Oriente, Rússia e China dominam a política externa
Na política externa, e sem surpresas, Trump defendeu a renegociação e formalização de novos acordos comerciais baseados em relações justas e recíprocas, que protejam os trabalhadores americanos e a propriedade intelectual. Reafirmou a importância das sanções contra Cuba e Venezuela, o apoio ao povo Iraniano que protesta contra o regime e a correção das falhas fundamentais do acordo nuclear com o Irão.
À semelhança do que já podia ser lido na National Security Strategy de Dezembro de 2017, identifica a China e a Rússia como rivais que desafiam não só os interesses e os valores dos Estados Unidos, mas também a economia. Anunciou novas regras de empenhamento no Afeganistão e a revisão da politica de detenção militar com a manutenção e expansão de Guantánamo para albergar os terroristas, que classificou como combatentes inimigos e não meros criminosos.
A Coreia do Norte
Sobre a ameaça da Coreia do Norte, defendeu que a complacência e concessões de nada valem num mundo em que o nuclear zero ainda não é uma opção. Com este argumento como pano de fundo, pediu ao congresso apoio para modernizar e reconstruir o arsenal nuclear americano no intuito de impedir qualquer ato de agressão e mais financiamento para as Forças Armadas e para a modernização de instalações militares.
Sem surpresas também, o anúncio da limitação de verbas para a assistência externa apenas a países que sirvam os interesses americanos, recordando a lista de países que, em sede do Conselho de Segurança, rejeitaram o reconhecimento unilateral de Jerusalém como capital de Israel.
A nova política de imigração
A novidade deste discurso poderá ser encontrada na definição concreta dos quatro pilares da nova política de imigração que Trump preconiza: por um lado, Trump mostra-se disposto a conceder, num prazo de 12 anos, a cidadania a 1,8 milhões de imigrantes ilegais que vieram menores para os EUA e que cumpram requisitos de formação e emprego mas, em troca do reforço da segurança da fronteira sul (construção do muro na fronteira com o México) e do reforço de meios humanos para controlar criminosos e terroristas.
Por outro lado, Trump quer acabar com a lotaria de vistos, privilegiando um sistema baseado no mérito de modo a atrair mão de obra altamente qualificada. Mais controverso é o quarto pilar desta nova política de imigração e que passa pela restrição do direito ao reagrupamento familiar a cônjuges e filhos menores, querendo assim reverter a prática ancestral americana da imigração familiar alargada a familiares distantes.
Os enganos de Trump
De todo o discurso de Trump ressalvam-se ainda, pelo menos, duas falácias. A primeira refere-se ao crescimento económico que Trump reivindica como galopante desde que ganhou as eleições. Porém, não só a economia americana já mostrava sinais de recuperação com Obama, como, em 2017, o défice aumentou.
A segunda falácia refere-se ao argumento de Trump de que a política de fronteiras abertas das anteriores administrações deixou a América vulnerável a gangs criminosos, drogas e terrorismo. Ora, Trump parece ignorar que fechar fronteiras só por si não resolve totalmente o problema, já que muitos desses indivíduos já se encontram nos EUA há vários anos.
Não obstante a postura conciliadora e ponderada que foi transparecendo ao longo do discurso, Trump sabe que os apelos ao bipartidarismo serão infrutíferos em algumas alas, quer republicana, quer democrata.
É sabido que a comunidade empresarial não apoia a redução radical da imigração legal, que os conservadores não apoiam novos investimentos federais significativos em infraestrutura, que os fundamentalistas do défice resistirão ao aumento das despesas militares e que muitos continuam reticentes a qualquer retórica que possa desestabilizar alianças tradicionais.
Novembro: O teste à capacidade de união de Donald Trump
Um ano depois da sua tomada de posse como 45º Presidente dos EUA, Trump sabe que enfrenta, em 2018, um verdadeiro referendo à sua administração: as eleições intermédias de Novembro para o congresso e para o senado, câmaras onde atualmente os republicanos são maioritários, serão um verdadeiro teste à capacidade de Trump unir os americanos em torno da bandeira e do hino, como o próprio preconizou no discurso do estado da União.
O presidente menos popular de sempre apresentou um discurso para consumo interno, para as comunidades esquecidas e para as famílias para manter a base de apoio republicana unida pelo patriotismo na preparação das eleições que se avizinham. Mas será suficiente para vencer e convencer? Pelo menos para já, há mais um recorde que Trump pode aclamar: o discurso do estado da União de Trump foi o mais tweetado da história, com mais de 4,5 milhões de mensagens.
Donald Trump at the State of the Union 2018. Photo by Shealah Craighead / Public domain
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