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Quem tem medo da China?
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Quem tem medo da China?

A China, apesar da longa história que aproxima portugueses e chineses, continua a ser entre nós uma ilustre desconhecida. Fala-se da China de quando em quando, na maioria dos casos não por interesse direto, mas porque algo aconteceu envolvendo este país, como quando o presidente dos Estados Unidos da América, Donald Trump decide aumentar as taxas aduaneiras relativamente aos produtos chineses.

Para Portugal a China ainda é distante e para os portugueses é mais objeto de interesse pelo passado do que pelo presente. Apesar de ter influenciado parte da contemporaneidade portuguesa, através de movimentos políticos e culturais afetos à revolução maoísta nos idos anos 70 do século XX português, parece ter caído num longo silêncio, só interrompido pelas alusões à transferência de soberania de Macau. Findo este processo, voltou a estar no passado dos portugueses e, sobretudo, fora daquilo que os meios de comunicação social consideram como interessante para o público.

Podemos procurar as razões deste desinteresse ou até mesmo elaborar sobre a orientação da esfera pública nacional para alguns temas específicos. Mas, talvez mais interessante que isso, é refletir sobre as razões para se considerar a China como um ator internacional determinante nos dias hoje e como isso pode ser interessante para os públicos mediáticos portugueses. A distância geográfica não justifica que se deixe passar ao lado um dos protagonistas da realidade que nos circunda e que se tornou num Estado presente em todas as geografias, ou seja, está em todas as latitudes e longitudes, de forma mais ou menos expressiva. Contudo, as narrativas do denominado “Ocidente” sobre a China estão aquém daquilo que tem sido o seu desempenho na última década.

Comecemos, então, por aí, pela representação da China nos países ocidentais. Embora estas aceções tenham evoluído, ainda estão eivadas de factos passados e preconceitos que dificultam a cabal perceção do papel deste país na atualidade. Comummente, a China é vista como um país sobrelotado, de mão de obra barata, que inunda o Ocidente com produtos massificados de baixa qualidade. Todavia, estas são visões do passado.

A China neste momento depara-se com um problema grave de declínio demográfico e envelhecimento rápido da população, dado que as novas gerações não poderão substituir as precedentes e as medidas que permitiram ao país modernizar-se e sair de um ciclo de peso demográfico excessivo, ditam agora novas medidas que permitam a substituição da população ativa. A mão de obra também já não é apenas numerosa; ainda é numerosa, mas está cada vez mais valorizada pela qualificação. As exportações são, cada vez mais, baseadas em produtos tecnológicos e do simples produtor que absorve ou até imita a tecnologia alheia, a China tornou-se num fornecedor de tecnologia de produção endógena, com o desenvolvimento de polos para investigação e desenvolvimento de produto. Esta é a China atual, tal como se apresenta aos mercados e à competição externa.

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Xi Jinping / Photo by Kremlin.ru / CC BY 4.0

As opiniões expressas neste texto representam unicamente o ponto de vista do autor e não vinculam o Centro de Estudos Internacionais, a sua direcção ou qualquer outro investigador.

CC BY-NC-SA 4.0 This work is licensed under a Creative Commons Attribution-NonCommercial-ShareAlike 4.0 International License.

Cátia Miriam Costa

Researcher at CEI-IUL. PhD in Literature (Univ. Évora). Master in African Studies (ISCSP-UTL). Undergraduate studies in International Relations (ISCSP-UTL). Research interests: intercultural relations, colonial and post-colonial studies, international communicaion, discourse analysis. Work experience: Think tanks and Economic and scientific diplomacy.