Terrorismo na Europa e Terrorismo Global
A captura de um terrorista que vivia, ocasionalmente desde 2014, em Gafanha da Nazaré, demonstrou, mais uma vez, que os objetivos locais e regionais são, quase sempre, de ambições de amplitude global. Nestes casos de terrorismo de inspiração jiadista radical, raramente existem ações, planeadas e/ou executadas, exclusivamente de âmbito local. Só quando analisamos a problemática de uma forma global, na sua verdadeira dimensão e intensidade, podemos perceber a grandeza de uma ameaça que está muito longe de estar afastada.
Os Estados Unidos avisam os seus cidadãos do risco de mais ataques na Europa e estendem este prazo até fevereiro de 2017. Por isso muitos viram a atenção para a Europa, apenas, porque pensam que o problema está aí. Não, está também aqui. Essencialmente, está onde estiver a grande política jiadista global e a sua estratégia de ação regional e local.
O problema não é o Daesh, também é o Daesh, o perigo não são os ataques na Europa, também são esses ataques, a preocupação não é a da descoberta de um terrorista que viveu em Portugal, mas também é motivo de apreensão. O que é crítico, nestes momentos, é não perder a perspetiva alargada no tempo, no espaço e nas várias dimensões. Além do Daesh há a al-Qaeda, o Boko-Haram, o al-Shabab, os Talibãs, a rede Haqqani, o Abu Sayyaf, a al-Nusra, o Ansar al-Sharia e tantos outros, afiliados ou não aos dois maiores grupos, mas que, de uma forma ou de outra, privilegiam narrativas e objetivos globais muito parecidos ou convergentes.
A rede descoberta em França, onde se incluía este residente ocasional em Portugal, tinha objetivos locais, regionais e globais. Passava por atacar em França mas também por atrair mais recrutas para o combate ao lado do Daesh, na Europa, na Síria, no Iraque, onde fosse necessário. As instruções, dizem-nos, partiram da Síria mas, podiam ter partido da Líbia, ou da Somália, ou do Iraque, ou quer que se encontrem quem, da parte destes grupos, pensa globalmente sobre os efeitos que quer criar localmente.
Esta grave ameaça não tem fronteiras embora tenha inúmeros objetivos locais. Por enquanto, o mais importante para os jiadistas radicais é de continuar a afirmar-se, a crescer em adeptos, a ganhar apoios regionais, essencialmente dentro dos países muçulmanos. Em segundo lugar, e também continua a ser relevante, é a intenção destes grupos na tentativa de afastar os povos europeus e ocidentais do apoio às operações internacionais contra os territórios sob a sua influência. Atacar na Europa, nos EUA, na Austrália, ou onde for é, acima de tudo, uma forma de intimidar os respetivos habitantes para que se afastem das áreas mais longínquas, fora dos seus territórios nacionais, onde estão em apoio das autoridades locais na defesa e apoio das populações vítimas da barbaridade da ação radical (como na Síria, no Iraque, na Somália, no Mali, no Afeganistão, etc.).
Estas duas dimensões são as fundamentais do jiadismo radical e é verdadeiramente importante provar, todos, que não nos intimidamos e mantemos a resiliência, a determinação e a solidariedade internacional, no apoio aos que mais necessitam, nas áreas onde o radicalismo é mais sentido. Devemos estar preocupados na defesa e segurança próxima mas não nos podemos fechar, exclusivamente, numa simples postura local e esquecer a dimensão global das ameaças.
A única garantia de uma segurança ampla, perene e consolidada, local e regional, só se obtém se mantivermos uma ação, para além de eficaz a este nível, decididamente cooperativa, concertada e assertiva, para fazer face à grande ameaça global que representa o Jiadismo Radical.
Gafanha da Nazaré, Photo by Câmara Municipal de Ílhavo
This work is licensed under a Creative Commons Attribution-NonCommercial-ShareAlike 4.0 International License.