This Week in the News (June 9, 2017) | Especial eleições britânicas
As eleições no Reino Unido são o acontecimento mais importante da semana em termos internacionais. O principal resultado é a perda da maioria absoluta por parte do partido Conservador de Theresa May, a atual Primeira-Ministra britânica, que tinha convocado as eleições como modo de obter um voto de confiança para o Brexit. No entanto, também não há uma vitória dos Trabalhistas de Jeremy Corbyn, que não conseguiram ganhar uma maioria que lhes permitisse governar o Reino Unido. Compreender as agendas dos diferentes partidos é fundamental para avaliar o impacto destes resultados e, para isso, o Guardian fez-nos um excelente resumo dos programas eleitorais em discussão.
A campanha foi intensa e marcada por muitos outros assuntos para além do Brexit. As questões sociais e o papel do Estado, e, sobretudo, o terrorismo, marcaram profundamente os debates. Os atentados do fim de semana na London Bridge, para além de demonstrarem as dificuldades que subsistem no controlo e vigilância das cidades europeias, trouxeram ao debate o papel de May na gestão da Administração Interna, pasta que ocupou de 2010 a 2016.
Não obstante, a grande questão agora é o futuro do governo britânico. Corbyn pediu imediatamente a demissão de May, mas a Primeira Ministra irá apresentar à Rainha Isabel II uma proposta de governo, como o apoio do DUP (Democratic Unionist Party, Partido Democrático Unionista, da Irlanda do Norte). Esta é sem dúvida uma iniciativa inesperada da parte de May, mas demonstra que a partir de agora, se esta proposta de governo for avante, o Partido Conservador estará condicionado na sua atuação. O DUP é um pequeno partido ultra-conservador, marginal, até agora, na cena política britânica.
A opinião dos media europeus é clara: os resultados das eleições de 8 de junho no Reino Unido traduzem uma derrota para Theresa May e para o Partido Conservador. O El País, no seu editorial, realça a posição de fragilidade com que May enfrentará, daqui em diante, as negociações com Bruxelas com vista ao Brexit. O mesmo tom é usado pela edição internacional do Spiegel, que chama a Theresa May de “The Tin Lady [a Dama de Lata]”, em claro contraste com o epíteto de “Iron Lady [a Dama de Ferro]” pelo qual era conhecida Margaret Thatcher. O op-ed do Spiegel reforça sobretudo a incerteza acerca do futuro político do Reino Unido, e não apenas na perspetiva das negociações externas. O Le Monde vê no resultado de ontem o reflexo da posição da Grã-Bretanha face ao Brexit: algo confusa e hesitante. Do outro lado do Atlântico, as leituras não diferem: o New York Times realça a divisão do eleitorado britânico, começando com uma frase sugestiva: “London – what a mess”. O Washington Post destaca a incerteza do futuro – aliás, “a única coisa certa neste momento…”.
Aquela que era a principal razão para a convocação de eleições – o Brexit e o reforço da posição de Londres perante as instituições europeias de Bruxelas – acabou por ficar gravemente fragilizada. Bruxelas já se pronunciou e percebemos que há agora uma tomada de posição mais forte. O Comissário Europeu Pierre Moscovici não hesitou em denunciar a fragilidade de Theresa May, dentro do seu partido e nas negociações com a UE e Juncker fez questão de também demonstrar que a UE está pronta para começar as negociações do Brexit.
Um último apontamento relativamente à participação do eleitorado jovem nestas eleições. Terá sido uma ampla participação eleitoral dos jovens, entre os 18 e os 24 anos de idade, que terá estado por detrás do inesperado resultado eleitoral. Na verdade, cerca de 72% dos jovens neste intervalo de idades foram às urnas, e votaram sobretudo no Partido Trabalhista de Corbyn (cerca de 63%). Por outro lado, a divisão da sociedade britânica também se reflete no voto nos Conservadores: 59% dos eleitores com mais de 64 anos votaram em May. Estes resultados poderão acentuar ainda mais as divisões no futuro quanto ao caminho a percorrer pelo Reino Unido, quer do ponto de vista interno, quer sobretudo do ponto de vista externo e das relações que se vierem a estabelecer após o Brexit.
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