#TimesUp: Hollywood de preto contra o assédio sexual
No passado domingo, durante a 75ª edição dos Golden Globes, a passadeira vermelha vestiu-se de preto, um grito de revolta por parte de vários actores e actrizes de Hollywood contra os escândalos de assédio e violência sexual que surgiram durante o ano de 2017. O mais mediático de todos envolve o produtor Harvey Weinstein, que ao longo de três décadas assediou e abusou sexualmente de várias mulheres. Seth Meyers, o comediante que apresentou a cerimónia, não deixou de parte o seu descontentamento com o caso: “Harvey Weinstein não está aqui esta noite porque ouvi rumores de que é louco e de que é difícil de trabalhar com ele“.
#TimesUp: O movimento que pretende acabar com a violência contra as mulheres
The clock has run out on sexual assault, harassment and inequality in the workplace. It’s time to do something about it.
Depois de um ano de 2017 repleto de notícias sobre assédio sexual e violência contra mulheres e do impacto da campanha #MeToo, mais de 300 actrizes juntaram-se e criaram um fundo para ajudar mulheres (e homens) vítimas de violência sexual. Apresentado num anúncio na primeira edição impressa de 2018 do “New York Times”, o movimento #TimesUp pretende acabar com a violência sexual, com o assédio e com a desigualdade no local de trabalho (onde se inclui a chamada gender pay gap).
Esta edição dos Golden Globes ficou ainda marcada pelas vencedoras da noite e pela força de séries e filmes que retratam violência e desigualdade de género. Nicole Kidman recebeu o globo de ouro de melhor actriz de minissérie com “Big Little Lies”, sendo a sua personagem uma mulher maltratada e abusada sexualmente pelo marido (interpretado por Alexander Skarsgård, que também venceu na categoria de melhor actor secundário). A própria série foi distinguida com o prémio para melhor minissérie ou filme para televisão. A aclamada “The Handmaid’s Tale“, que retrata um mundo distópico, onde as mulheres férteis são forçadas a serem barrigas de aluguer e conceber os filhos das famílias mais elitistas e estéreis, venceu as categorias de melhor série e de melhor actriz principal, com Elisabeth Moss. No cinema, “Três Cartazes à Beira da Estrada“, que conta a história do desespero de uma mãe após o brutal assassinato da sua filha adolescente, recebeu o prémio de melhor argumento, melhor filme, melhor actor secundário e melhor actriz, com Frances McDormand no papel principal.
No final, Barbra Streisand aproveitou a sua subida ao palco para afirmar que o tempo acabou (em alusão ao movimento #TimesUp) e que está na hora de mudar, relembrando que foi a primeira mulher a vencer a categoria de melhor realização, em 1984, e que, 34 anos depois, mais nenhuma outra mulher venceu.
Oprah Winfrey e um discurso para a vida
Oprah Winfrey recebeu o prémio Cecil B. de Mille por ser “um exemplo a seguir por mulheres e jovens”, tendo feito um discurso para a vida (assista ao discurso aqui ou leia-o na íntegra aqui). Com uma linguagem inclusiva e não se esquecendo de quem costuma ser posto de parte, Winfrey começou por recordar que, quando era criança, assistiu pela televisão à entrega do Óscar de melhor actor a Sidney Poitier, que viria a ser distinguido também com o Cecil B. DeMille em 1982. Essa imagem marcou-a, pois Poitier foi o primeiro homem afro-americano a receber tal distinção, tal como, em 2018, Oprah Winfrey foi a primeira mulher afro-americana a receber o prémio.
So I want all the girls watching here, now, to know that a new day is on the horizon! And when that new day finally dawns, it will be because of a lot of magnificent women, many of whom are right here in this room tonight, and some pretty phenomenal men, fighting hard to make sure that they become the leaders who take us to the time when nobody ever has to say “me too” again.
O seu discurso foi de tal forma potente que a internet reagiu pedindo a Oprah que se candidate à presidência dos Estados Unidos da América em 2020.
This work is licensed under a Creative Commons Attribution-NonCommercial-ShareAlike 4.0 International License.