A Via Crucis do “Brexit” está só a começar

O “Brexit” imaginário que foi vendido aos britânicos não era só, como se gabava Boris Johnson, o Reino Unido querer ao mesmo tempo ter um bolo e comê-lo.

A certa altura nas negociações para a declaração política do “Brexit” houve um comentador britânico que notou a vitória do Governo espanhol na questão de Gibraltar e se admirou pelo facto de o Governo grego ainda não ter tentado pedir de volta os mármores do Parténon que estão no Museu Britânico.

A palavra-chave, aqui, é “ainda”.

Neste momento, a aprovação do acordo de saída necessita, além do voto positivo do Parlamento Europeu e do Parlamento britânico, apenas de uma maioria qualificada entre os Estados-membros da União Europeia. Nesse sentido, o “veto” espanhol não era exatamente um veto — a Espanha não podia bloquear sozinha o acordo de saída do Reino Unido — e por isso se tornou ainda mais notável como vitória política. Espanha ganhou apenas o espaço necessário para que a questão de Gibraltar se torne, nos próximos anos, aquilo que a questão da Irlanda do Norte foi nos últimos: uma matéria para uma inevitável cedência britânica, caso o Governo de Londres queira um acordo.

E Londres precisa de um acordo, ou melhor, de vários.

Precisa deste acordo de agora, para a saída. E precisa de um próximo acordo que enquadre as relações futuras entre a UE e o Reino Unido. Nesse próximo acordo, aí sim, cada Estado-membro terá direito a veto. E é inevitável que os gregos voltem a pedir os mármores do Parténon e que os britânicos tenham de lhes dispensar a atenção que nunca lhes dignaram dar.

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As opiniões expressas neste texto representam unicamente o ponto de vista do autor e não vinculam o Centro de Estudos Internacionais, a sua direcção ou qualquer outro investigador.
Foto por Max Pixel/ CC0 1.0

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Rui Tavares

Researcher at CEI-IUL. PhD in History (École des Hautes Études en Sciences Sociales, Paris). Member of the European Parliament and rapporteur for refugee and human rights issues in Hungary (2009-14). Research interests: History; Portuguese cultural and political history; European Union history and theory.

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