Sociedade em rede
Assim, indubitavelmente a voz do cidadão tornou-se mais audível, mas também possibilita mais distorção. As fontes de informação diversificaram-se e ficaram menos sujeitas a controlo, por códigos de conduta ou outros meios legais. Esta situação não é historicamente nova.
Vivemos numa sociedade permanentemente conectada. Seja qual for a parte do mundo em que algum fenómeno natural ou processo político com destaque aconteça, sabemo-lo em tempo real. Precisamos de alguma informação imediata e acedemos a esta através de um complexo sistema de fornecimento de dados em rede, chamado internet. A informação e o conhecimento parecem ter-se tornado imediatos, dada a facilidade com que acedemos ao mesmo. Contudo, o acesso à informação pressupõe tempo para analisá-la, percebê-la e saber contextualizá-la, caso contrário estar-se-á apenas a receber passivamente os dados que nos querem passar. No caso do conhecimento, a situação é ainda mais preocupante. Conhecer algo obriga a uma postura pró-ativa, ou seja, a pessoa que pretende adquirir conhecimento para além do acesso a conteúdos tem de saber desconstruir a mensagem e dar-lhe um sentido próprio, bem como, ser capaz de estabelecer associações entre este novo elemento de conhecimento e outras aprendizagens já memorizadas. Nestes casos, a rapidez com que se acede a uma série de factos não pode ser considerada como conhecimento ou informação, se os passos que lhe são subsequentes não forem dados.
Apesar dos muitos aspetos positivos que tem, a sociedade em rede merece ser pensada e reequacionada. O que ganhamos em ter acesso a dados e factos em tempo real? Estaremos preparados para os desafios colocados por esta sociedade em rede? As gerações analógicas, as de transição para o digital e as digitais, classificando de acordo com a evolução da tecnologia, estão capacitadas e conscientes das consequências da vivência em rede? Como podemos individual e coletivamente gerir a nossa participação na sociedade em rede? Neste ensaio, a nossa atenção será direcionada para a área mediática, dos media tradicionais e das redes sociais, mas a sociedade em rede disseminou-se a todos os aspetos do nosso quotidiano.
O algoritmo que controla
O termo “sociedade em rede” é cunhado por Manuel Castells no século XX, em sociedades que se revelavam pós-industriais e já inseridas numa sociedade emergente designada por “era da informação”. Castells foi trabalhando e aprofundado os estudos em torno deste tema e a sociedade em rede foi ganhando novos contornos à medida que as transformações tecnológicas, sociais e económicas iam ocorrendo. De um deslumbramento inicial, assente na progressiva democratização da participação na criação de conteúdos, vários estudiosos da matéria, sobretudo, nas áreas da sociologia da comunicação, das ciências da comunicação e da comunicação internacional, foram alertando para novos desafios.
Entre esses riscos estão alguns associados às economias de mercado mais pujantes, como por exemplo, a integração vertical de empresas produtoras de suportes tecnológicos e de conteúdos, empresas de comunicações e produtoras de conteúdos. Portanto, a questão já não está na concentração nas mesmas mãos de várias tipologias de meios de comunicação (jornais, rádios, televisões), mas no controlo nas mesmas mãos da produção, distribuição e suporte técnico dos conteúdos produzidos para serem divulgados através dos meios de comunicação mais tradicionais ou digitais. Os algoritmos que nos fazem aceder a determinados factos em tempo real, é o mesmo que pode suprimir uma publicação que queiramos fazer. Aliás, essas práticas são testadas em algumas ocasiões e por algumas redes sociais. Em muitos casos, perante situações de competição política, dos quais se destacam o caso das eleições presidenciais nos Estados Unidos e, mais recentemente, o caso das eleições presidenciais no Brasil cuja campanha eleitoral está a decorrer.
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