A democracia é o aqui e o agora

A tão propalada pós-verdade não é mais que um sintoma desta vida em formato de corrida, em que se misturam factos reais e simulados, porque o tempo é pouco para aferir da veracidade ou lógica de cada novidade que nos aparece.

Vivemos dias difíceis. Esta parece ser uma afirmação que levanta poucas dúvidas à maior parte de nós. Mas não são todos os tempos difíceis e fruto de uma trabalhosa construção de equilíbrios em cima de profundos desequilíbrios? Os desafios com que hoje nos confrontamos são diferentes dos do passado, mas não podemos considerar que somos os primeiros a enfrentar turbulência e incertezas quanto ao presente e ao futuro.

Estamos confrontados com sociedades cansadas de si próprias e com vontade de se cansar ainda mais, procurando permanentemente a experiência e transformando cada aprendizagem numa prova de aptidão para um ambiente competitivo e em que os recursos são diminutos. E não são apenas os recursos criados humanamente que são escassos. Criámos sociedades que delapidam rapidamente os recursos naturais, sem pensar que a competição por estes recursos lançará a humanidade num estado permanente de violência e disputa pela sobrevivência.

O “mais” tornou-se mais importante que o “melhor” e isso atravessa todas as esferas da vida humana. Mas esse mais determinou que um outro bem que aprendemos a medir se tornasse cada vez mais escasso, pelo que estamos sempre a viver com o menos: menos tempo para atingir o “mais”. Esse tempo que escasseia tem consequências na vida profissional, afetiva e também comunitária e societária. Vamo-nos habituando a aceitar raciocínios alheios e a tornar tudo muito claro entre o branco e o preto, eliminando todas as áreas cinzentas entre um e outro extremo.

A tão propalada pós-verdade não é mais que um sintoma desta vida em formato de corrida, em que se misturam factos reais e simulados, porque o tempo é pouco para aferir da veracidade ou lógica de cada novidade que nos aparece.

Não é nova a aceleração na vida das pessoas. Cada vez que temos uma inovação disruptiva que estreita distâncias e acelera contactos ou processos de produção, esta questão é levantada. Não é por acaso que no seguimento de um grande desenvolvimento científico e tecnológico, as pessoas se sentem desafiadas a novos comportamentos. Profissões antigas desaparecem e novas surgem, os meios de conhecimento parecem transformar-se e substituir cabalmente os pré-existentes, levando a que a vida humana como um todo sofra alterações. É nesses momentos que os equilíbrios são repensados, reavaliados e refeitos.

Leia o artigo na íntegra no site d’O Jornal Económico.

As opiniões expressas neste texto representam unicamente o ponto de vista do autor e não vinculam o Centro de Estudos Internacionais, a sua direcção ou qualquer outro investigador.

Foto de Nick Youngson / CC BY-SA 3.0

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Cátia Miriam Costa

Researcher at CEI-IUL. PhD in Literature (Univ. Évora). Master in African Studies (ISCSP-UTL). Undergraduate studies in International Relations (ISCSP-UTL). Research interests: intercultural relations, colonial and post-colonial studies, international communicaion, discourse analysis. Work experience: Think tanks and Economic and scientific diplomacy.

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