MEDIA | Entrevista sobre a Guerra na Ucrânia: “Espero que as lições da crise dos mísseis de Cuba não sejam esquecidas”
O diretor e investigador, Luís Nuno Rodrigues, foi entrevistado pela Helena Tecedeiro (Diário de Notícias) a propósito da guerra na Ucrânia.
“Diretor do Centro de Estudos Internacionais do ISCTE-IUL, Luís Nuno Rodrigues fala ao DN da forma como a guerra na Ucrânia fez os EUA recentrarem-se nos aliados europeus e da NATO, do cenário “devastador” de um ataque nuclear e do sonho de Putin de recuperar o “Mundo Russo”.
Biden vem à Europa para a semana para as cimeiras da UE e da NATO. Depois de anos virados para a Ásia-Pacífico, o conflito na Ucrânia está a fazer os Estados Unidos reaproximarem-se da Europa e da NATO?
Sem dúvida. Desde a administração Obama que os Estados Unidos tinham proclamado que este seria para a América o “Século do Pacífico” e esta profecia não foi desmentida nos anos que se seguiram. O sistema internacional conheceu uma transformação notável que levou os Estados Unidos a reconhecer que os principais desafios vinham da região Ásia-Pacífico, sobretudo com a ascensão da China e os passos seguros dados por este país no sentido de se constituir como alternativa enquanto potência ordenadora do sistema internacional. É certo que líderes como Obama e Biden mantiveram sempre uma postura europeísta e transatlântica, sobretudo porque tiveram a necessidade de reparar os danos causados pelos seus antecessores. Mas o conflito na Ucrânia veio, sem sombra de dúvida, chamar a atenção da administração Biden da importância e da centralidade das relações com os seus aliados europeus e da NATO que, afinal de contas, não pode mais ser a instituição obsoleta que Trump julgava ser ou em “morte cerebral” como declarou o presidente francês Macron. A invasão da Ucrânia trouxe a guerra para um país que, não sendo membro da NATO, faz fronteira com vários países da NATO e necessariamente provocou essa reaproximação entre os Estados Unidos e os seus aliados da Aliança Atlântica. Foi, como disse também Macron, o “choque elétrico” de que a NATO precisava.
Quando o mundo estava centrado na guerra comercial entre Estados Unidos e China, esta guerra veio trazer a velha inimiga Rússia de volta às preocupações dos americanos?
Na verdade, não foi apenas o desencadear da guerra propriamente dita, em 2022, que trouxe a Rússia de volta às preocupações dos americanos. Existe um estado de guerra latente na Ucrânia desde 2014, esse ano chave da história do país e, provavelmente, da história da Europa. A partir do momento em que o antigo presidente ucraniano Yanukovych decidiu cancelar o acordo de associação entre a Ucrânia e a União Europeia e que se desencadearam os protestos populares que culminaram com a sua demissão, a Rússia reagiu com a anexação da Crimeia e com o apoio aos movimentos independentistas do Donbass. Os Estados Unidos condenaram de imediato as ações da Rússia exercendo pressão internacional que levou, por exemplo, à exclusão da Rússia do G-8. De certa maneira, desde 2014 que os Estados Unidos e a Rússia enfrentam a mais grave crise no seu relacionamento bilateral desde o final da Guerra Fria. O início da guerra foi apenas o último golpe num relacionamento já de si em crise. Isto não significa que a Rússia tenha substituído a China enquanto preocupação fundamental dos Estados Unidos no plano internacional o que também se comprova pela importância da conversa mantida na sexta-feira 18 de março entre Biden e Xi Jinping.”
Excerto retirado do site do Diário de Notícias, ler o resto do artigo aqui.
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