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Os Debates Televisivos e as Eleições Americanas

De acordo com as reacções generalizadas dos órgãos de comunicação social norte-americanos, Hillary Clinton terá vencido o primeiro debate realizado na noite de 26 de Setembro, nos Estados Unidos. O mesmo parecem indicar os primeiros estudos de opinião que foram divulgados logo na manhã seguinte.

No seu site a Vox refere uma sondagem feita pela CNN junto de um grupo de espectadores na qual 62% consideraram que Clinton venceu o debate; um exercício idêntico feito pelo Public Policy Polling, no qual 51% dos inquiridos também atribuíram a vitória a Clinton; num grupo de 20 eleitores indecisos da Florida, 18 consideraram que Hillary venceu; o mesmo sucedeu na Pennsylvania.

Nos órgãos de comunicação social, conforme referido, a opinião dominante aponta para uma vitória de Hillary Clinton que soube bem explorar as inconsistências de Trump e sobretudo as suas declarações no passado sobre minorias, mulheres e outros grupos da sociedade norte-americana. Resta agora saber o real impacto que o debate poderá ter nas sondagens e nas intenções de voto dos eleitores americanos, sondagens essas que, nas últimas semanas, tinham vindo a indicar um decréscimo na liderança de Hillary, quer em termos de percentagens nacionais, quer no número de eleitores para o colégio eleitoral.

O impacto dos debates ao longo da história

Existe a percepção generalizada, seguramente desde 1960, que nos Estados Unidos os debates presidenciais televisionados constituem um momento decisivo na campanha eleitoral, que podem mudar a opinião dos eleitores, convencer indecisos e resolver eleições.

Esta percepção deriva em grande medida daquele que foi o debate inaugural das modernas transmissões televisões: o já célebre debate entre John Kennedy e Richard Nixon que expôs, de maneira evidente, o contraste entre as duas personalidades e entre a postura televisiva de cada um dos candidatos. Nesta semana que antecedeu o primeiro debate Hillary≠Trump foram recordados outros momentos históricos, como o debate entre Jimmy Carter e Ronald Reagan em 1979, durante o qual Reagan proferiu a célebre frase: “are you better off“.

Mas serão os debates televisivos momentos realmente decisivos das campanhas eleitorais norte-americanas? A vasta literatura académica sobre o tema parece indicar que, na verdade, os debates têm um impacto muito limitado nas preferências eleitorais da maioria dos votantes. A verdade é que, na altura dos debates, a maior parte do eleitorado parece estar já decidido no seu apoio a este ou aquele candidato, pelo que as mudanças na intenção de voto serão pouco relevantes. A prestação no debate parece servir, sobretudo, para fixar o eleitorado e para o motivar a sair à rua no dia das eleições para votar no seu candidato preferido.

A evolução das sondagens

Terá sido esse o caso do debate de dia 26 de Setembro? Vejamos com atenção o que nos dizem as sondagens e a sua evolução ao longo da semana. Imediatamente antes do debate o site realclearpolitics.com, que faz a média das mais importantes sondagens, dava uma vantagem de 2,3% a Hillary Clinton. Em termos do colégio eleitoral, Hillary tinha assegurados 198 eleitores e Trump 165, com 175 ainda por distribuir, por serem provenientes de Estados onde os dois candidatos se encontravam demasiado próximos. Nos dias que se seguiram ao debate, as sondagens mostraram Clinton a crescer nos dados nacionais, chegando a 47.5% no dia 2 de Outubro, contra 45% de Trump, e também no número de eleitores, com 201 para Hillary Clinton, 165 para Trump e 172 por distribuir.

Com estes números Hillary Clinton teria não apenas que vencer em Estados onde apresenta por agora uma vantagem curta (Pennsylvania, Michigan, Minnesotta, Wisconsin, New Hampshire e Maine), mas também conquistar a decisiva Florida, onde as sondagens do mesmo site lhe conferem agora uma vantagem de apenas 1,2%.

Será que numa situação de tal proximidade entre os dois candidatos os próximos debates televisivos, a 9 e 19 de Outubro, podem vir a ter uma influência decisiva no resultado final?

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Luís Nuno Rodrigues

Director and researcher at CEI-IUL. Associate Professor at ISCTE-IUL. Editor of the Portuguese Journal of Social Science. Ph.D in American History (University of Wisconsin). Visiting professor at Brown University.