Espanha: A potência falhada
Os problemas internos de Espanha já se projectam a nível externo. Numa votação indicativa sobre o futuro vice-presidente do BCE, Luis de Guindos ficou atrás do irlandês Philip Lane.
Espanha é uma democracia liberal consolidada e sobre isso não deveriam restar grandes dúvidas. Haverá democracias em que o poder judicial seja mais independente e em que os conceitos de liberdade e de respeito pelos adversários estejam mais enraizados, mas ninguém poderá contestar que os espanhóis de hoje têm o sistema democrático mais sólido e estável da história do país.
Pontualmente, ao longo dos últimos quarenta anos, o poder político espanhol pensou que poderia acrescentar ao estatuto de democracia consolidada o de potência europeia. Foi assim com Felipe González em 1992, com José María Aznar em 2003 e com Rodríguez Zapatero em 2008. Porém, apesar do crescimento do PIB ter permitido uma melhoria clara do nível de vida dos espanhóis e um amplo desenvolvimento do Estado, crises, como a que teve início em 2009, puseram a nu grandes fragilidades. O desemprego, que voltou a subir bem acima dos 25%, e o descalabro da banca pública regional são as duas faces mais visíveis destas dificuldades.
A actual crise de Estado é, no entanto, ainda mais reveladora dos problemas estruturais que Espanha atravessa. Mariano Rajoy e o seu Partido Popular ganharam com maioria absoluta as eleições legislativas de 2011. Ao longo da sua primeira legislatura no poder (2011-2015), começaram a avançar vários processos judiciais que tinham como objecto a actuação de responsáveis regionais do partido, o que, conjugado com a aplicação de medidas de austeridade, provocaram um grande desagaste ao executivo e ao próprio Rajoy. O produto deste processo foi a eleição, em Dezembro de 2015, de um parlamento fragmentado incapaz de gerar um novo governo. O impasse levou às eleições de Junho de 2016 e a um governo minoritário do PP que só tomaria posse a 4 de Novembro desse ano, o que se traduziu na inexistência de um executivo em efectividade de funções durante mais de dez meses.
Leia o artigo completo de Filipe Vasconcelos Romão no site do jornal ECO.
Luis de Guindos. Photo by Aron Urb / CC BY 2.0
This work is licensed under a Creative Commons Attribution-NonCommercial-ShareAlike 4.0 International License.