Helmut Kohl, o unificador
Helmut Kohl foi o líder alemão responsável pela unificação alemã. Foi-o não só porque era o Chanceler federal na altura, mas também porque foi da sua responsabilidade a solução encontrada para essa unificação. Mais ainda, Kohl foi também um dos grandes responsáveis pela unificação da Europa e pelo aprofundamento da integração europeia, a outra face da unificação alemã.
Líder histórico e figura tutelar da Democracia-Cristã alemã do pós-guerra – provavelmente a principal figura da União Democrata-Cristã (CDU) após Konrad Adenauer – Kohl marcou profundamente a vida política alemã. Vindo de fora dos círculos políticos mais notáveis, o líder alemão foi ascendendo na hierarquia do partido até que em 1976 conquistou a liderança da CDU. Um dos seus principais adversários, Willy Brandt (Social-Democrata) disse que não deveria ser menosprezado – e Kohl mostrou que tinha razão.
Helmut Kohl chegou à Chancelaria federal em 1982, na sequência do abandono da coligação governamental que unia Liberais e Social-Democratas por parte do partido Liberal alemão (FDP). A perda de maioria no parlamento levou a uma mudança de liderança em Bona. Kohl iria estar no poder durante mais de 16 anos, até 1998, acompanhando, definindo e executando aqueles que foram talvez, os anos decisivos da Alemanha e da Europa no pós-II Guerra Mundial.
O seu caracter afável facilitou as relações pessoais com os principais líderes internacionais: George Bush, Michael Gorbatchev, François Mitterrand, entre outros. A solução apresentada por Kohl com vista à reunificação alemã – a integração dos Länder da RDA na Alemanha Ocidental, algo permitido e de alguma maneira previsto pela Lei Fundamental da RFA – apresentada inicialmente no seu célebre discurso dos 10 pontos, de Novembro de 1989, foi o roadmap que permitiu a unificação da Alemanha no ano seguinte, num processo pacífico e célere.
Igualmente fundamental para assegurar o futuro da Alemanha unificada foi a decisão de avançar com a integração europeia. Como o próprio referia muitas vezes, era importante tornar a Alemanha europeia de modo inquestionável e definitivo. Era necessário fazê-lo não só por uma questão política, mas sobretudo para acalentar aqueles que temiam o poder de uma Alemanha unificada, sobretudo com a crescente fragilidade da União Soviética (que viria a desmoronar-se em finais de 1991). Tanto François Mitterrand como Margaret Thatcher tiveram grandes dificuldades em encarar a unificação alemã e rapidamente pediram as respetivas contrapartidas, nomeadamente em termos de integração europeia. Foi assim que Kohl deu o impulso decisivo para a união económica e monetária, agindo muitas vezes, como o próprio dizia, quase como um ditador que impunha a sua posição contra uma grande maioria dos alemães que não queriam abdicar do Deutsch Mark.
Depois de abandonar a chancelaria, envolto num escândalo de corrupção, Kohl manter-se-ia como um observador e comentador atento da vida política europeia e internacional. Quando se perceberam quais seriam as medidas a aplicar aos países do sul da Europa durante a recente crise económica e financeira, Kohl não hesitou em criticar fortemente a perda do espírito de solidariedade europeu, apontando o dedo inclusivamente a Merkel, sua discípula e protegida.
Helmut Kohl foi, tal como Willy Brandt, Helmut Schmidt, Egon Bahr, e, antes destes, Konrad Adenauer, Ludwig Erhard, entre outros, um dos grandes alemães do pós-II Guerra que marcaram profundamente a história alemã, europeia e ocidental. Kohl ficará para sempre reconhecido como o grande arquiteto da unificação alemã, mas não poderemos nunca esquecer o que fez pela unificação e integração europeia e pela sua adaptação à realidade global do duplo pós-Guerra Fria e pós-União Soviética.
Helmut Kohl at the opening of the Brandenburg Gate on December, 22 1989. Photo by SSGT F. Lee Corkran , Public Domain.
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