A pena do Reino Unido
O Brexit expõe a discreta transferência massiva de competências para Bruxelas. Theresa May foi incumbida da gestão de um processo inédito para o qual ninguém estava preparado.
O Reino Unido é, hoje, a prova viva da complexidade da integração na União Europeia. Todo o seu processo de saída expõe de forma clara a discreta transferência massiva de competências para Bruxelas que os Estados têm levado a cabo ao longo dos anos. Se tivermos em conta que este país nunca pertenceu ao Espaço Schengen ou à zona euro, poderemos ter uma noção mais clara de que a UE é muito mais do que a livre-circulação de pessoas e do que a moeda única.
Os britânicos nunca foram europeístas convictos. Entraram para a então Comunidade Económica Europeia (CEE) em 1973 e dois anos depois já estavam a organizar um referendo acerca da permanência do país no então mercado comum. O único primeiro-ministro abertamente favorável à integração foi Tony Blair, no período entre 1997 e 2003, mas o alinhamento acrítico com George W. Bush na questão iraquiana levou-o à ruptura com franceses e alemães. A partir de 2008, a crise permite a expansão de várias ondas de cepticismo em relação à Europa. No caso do Reino Unido, irão fazer-se sentir também nos principais partidos. Os Trabalhistas, por um lado, abandonam a sua abertura a aprofundar a integração e a equacionar uma participação plena. Os Conservadores transformar-se-ão abertamente num partido eurocéptico.
O referendo de 2016 foi o corolário deste processo, motivado por uma necessidade de exibição de anti-europeísmo do então primeiro-ministro conservador. David Cameron pensou que poderia capitalizar duas posições contraditórias: manter o país na União Europeia e, em paralelo, organizar um referendo (em que seria aprovada a continuidade) para agradar os descontentes. Pelo meio, sonhou que iria obter melhores condições graças a um exercício de chantagem sobre as lideranças europeias em plena crise. Falhou estrepitosamente e, ao contrário do que alguma vez terá esperado, os britânicos votaram maioritariamente pela saída.
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Photo by Ed Everett / CC BY 2.0
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