Plano Marshall: Ver África com outro olhar
Felizmente já lá vão a Eurovisão e as concorridas celebrações de Fátima do passado dia 13. Agora, por estarmos em maio, mês em que se celebra África, evoco a pertinência do Plano Marshall para o continente africano relançado pela Alemanha, com a reeleição da chanceler Angela Merkel. Proposta similar acaba de fazer a Assembleia Parlamentar Francófona, recentemente reunida em Cabo Verde, favorável a um plano de recuperação económica de África, a ser discutido no âmbito do G7 no Quebec (Canadá), para também fazer face à crise migratória que tem levado à morte milhares de jovens africanos no Mediterrâneo.
Muito se tem falado da necessidade de mudança de paradigma e de uma nova postura dos países da OCDE na ajuda ao desenvolvimento, tendo África como um dos destinatários. Tem sido alvo de muitas iniciativas de parceria, alargadas à cooperação triangular, visando atingir os objetivos de desenvolvimento sustentável traçados pelas Nações Unidas. Mas também é sabido que África tem sido palco de disputas que, em parte, não beneficiam os reais interesses das populações.
Portugal, usando os recursos ao seu dispor como parte da União Europeia (UE), tem reafirmado vezes sem conta que a África lusófona, a par de Timor-Leste, é a principal beneficiária das ações de cooperação. Num recente encontro de trabalho com jornalistas da imprensa estrangeira, Luís Faro Ramos, o novo presidente do Instituto Camões, sublinhou os desafios e as prioridades, no quadro da política externa portuguesa, direcionados para os PALOP. A própria secretária de Estado Teresa Ribeiro, que tutela a pasta da Cooperação, tem sustentado esta vertente como parte de uma estratégia delineada em articulação com os parceiros africanos, mas que exige recursos financeiros.
No entanto, Cátia Miriam Costa, investigadora do Centro de Estudos Internacionais do Instituto Universitário de Lisboa, fala da concorrência de novos parceiros económicos para África, com destaque para a China e para a Índia, e diz que face a este cenário “é natural que os Estados europeus queiram posicionar-se favoravelmente de novo no xadrez das relações internacionais para o continente”. Concordo com a académica, para quem parece que, pela primeira vez, se preconiza “ultrapassar a cooperação mais tradicional de ajuda ao desenvolvimento”, de modo a “criar estruturas de apoio à capacitação para a vida empresarial”.
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