Poderá João Lourenço ser o Gorbachov do MPLA?
Eugénio Costa Almeida, investigador do Centro de Estudos Internacionais do Instituto Universitário de Lisboa, diz que no partido no poder em Angola há quem defenda uma mudança de rostos: “Uma mudança seria a saída de familiares de Eduardo dos Santos”.
A contagem dos votos das eleições gerais em Angola ainda não foi fechada, mas com 97% dos boletins escrutinados, os resultados provisórios já não devem sofrer grandes variações. Segundo os valores oficiais, o MPLA foi o partido mais votado, com 61%, menos do que em 2012, seguido pela UNITA com 26% e a CASA-CE com 9,5%. O investigador angolano do CEI-IUL diz que apesar de ter elegido menos 25 deputados, a quebra do MPLA não é muito acentuada.
É um resultado esperado? E como interpreta as reclamações, feitas por todos os partidos menos o vencedor, quanto à forma como decorreu o escrutínio e foram anunciados os resultados?
É preciso ressalvar que ainda é cedo para adoptar estes valores como reais. As contagens ainda não estão encerradas, e no sábado ainda se vai proceder à votação em três províncias: são pouco mais de mil votos, mas que podem ter influência na distribuição dos deputados. Mas em termos da eleição de João Lourenço como Presidente da República era expectável e não constitui surpresa; e em termos da vitória do MPLA também não constitui surpresa.
Mas há várias coisas dignas de nota. Uma tem a ver com o valor da abstenção que foi apresentado, de 23%, e que me parece um pouco aquém da realidade, tendo em conta que vários observadores que seguiram a votação na cidade de Luanda e outros pontos do país constataram que havia muitas secções de voto onde a meio da tarde ainda não tinham votado 50% dos inscritos.
Outra coisa tem a ver com as reclamações, que não são só da UNITA, mas de todos os partidos, incluindo a Aliança Patriótica Nacional (APN), o chamado apêndice do MPLA que fica fora do parlamento e portanto é natural que esteja a reclamar. As declarações que foram feitas até agora, de partidos que não reconhecem nem aceitam os resultados provisórios, deixa antever que até 6 de Setembro, que é a data da publicação dos resultados definitivos a partir da qual é possível apresentar recurso, ainda se vai assistir a muita discussão.
Leia a entrevista completa no site do jornal Público.
Nova Assembleia Nacional, Luanda. Photo by Fabio Vanin / CC BY-SA 3.0
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