Visão Global 2017: Bruno Cardoso Reis
Personalidade do ano: O líder populista nacionalista (Trump & Companhia)
Qual a figura que mais impactou o mundo este ano? Parece-me pertinente identificar uma tipo, mais que um indivíduo – o líder populista nacionalista. Ou seja, alguém cujo estilo de liderança passa por usar sistematicamente uma retórica de oposição à elite tradicional alegadamente na defesa dos interesses do verdadeiro povo, da nação humilhada.
É evidente que estamos a falar em primeiro lugar do primeiro ano do novo Presidente dos EUA, Donald Trump. E sobretudo do facto de que Trump não só foi eleito como um populista mas tem procurado governar dessa forma. Ao contrário do que muitos previam não moderou a sua postura. Continua a tentar governar via twitter, sem mediações institucionais, atacando juízes, senadores e até ministros do seus próprio governo. Continua a apostar numa retórica de ele contra as elites, os estrangeiros, os emigrantes, a quem culpa do que corre mal.
Sobretudo trata-se de sublinhar que não é só Trump. O mais notável neste ano de 2017 é que todos os líderes de todas as principais potências mundiais se enquadram nesse modelo de liderança populista nacionalista. Estamos a falar de Trump, mas também de Xi Jinping na China, de Narendra Modi na Índia, e de Vladimir Putin na Rússia. Todos eles, apesar de importantes diferenças entre os países que governam, desde logo de regime, parecem determinados a exercer um estilo de liderança mais populista e nacionalista do que os seus antecessores. Procuram moldar as instituições que encontraram às suas conveniências. Justificam a concentração de poder na sua pessoa como a melhor forma de combater os inimigos internos e externos dos verdadeiros chineses, indianos, russos ou norte-americanos.
Não ignora que Xi foi apontado como uma espécie de alternativa a Trump com a sua defesa da globalização em Davos. Mas parece-me errado esquecer a sua forte dimensão nacionalista, ou o facto de que a China está longe ser uma economia aberta ao investimento e ao comércio estrangeiro. No fundo, tal como Trump todos estes líderes estão interessados no mercado e nas relações económicas com o exterior, desde que isso fortaleça o seu poder e seja no interesse do respetivo Estado.
Talvez a imagem de marca mais forte deste tipo de liderança seja o usa da retórica do combate à corrupção para consolidar o poder. Foi assim inicialmente com Putin. E ele tem sido seguido pelos demais, desde as purgas de Xi até à campanha de Modi forçando a saída de circulação de notas de elevado valor, até ao slogan “drain the swamp” de Trump. O exemplo mais recente desta técnica populista é a campanha anticorrupção do novo príncipe herdeiro da Arábia Saudita contra os seus rivais.
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