Como Num Filme
Em sociedades ditas democráticas, o mundo do espetáculo não tem de assumir o papel de único ou principal indutor da oposição ao autoritarismo e ao uso discricionário do poder.
A cerimónia dos Óscares e o Carnaval ocuparam parte da agenda mediática da semana. Foram as notícias mais faladas na área internacional dos media portugueses. Isto poderia levar-nos a várias reflexões. Na realidade quer dizer que o mundo do espetáculo e da catarse tendem a sobrepor-se cada vez mais às vivências quotidianas dos indivíduos. O expectável é que os corsos carnavalescos critiquem os factos políticos e os comportamentos sociais, e que a indústria do cinema faça o papel de opositor político.
Esta situação seria entendível numa sociedade condicionada na sua democracia e na participação cidadã. Em sociedades ditas democráticas, e apesar da necessidade de momentos de catarse, o mundo do espetáculo não tem de assumir o papel de único ou principal indutor da oposição ao autoritarismo e ao uso discricionário do poder.
Nos dias de hoje, e condicionadas também por lógicas de mercado, as indústrias cinematográfica e carnavalesca obedecem a princípios de sobrevivência que as afastam da pureza do debate ideológico ou da simples reivindicação por mais e melhores direitos humanos e sociais. Acresce a isto a natureza da própria arte e performance que, estando ligada à realidade – e, inúmeras vezes, superando-a e antecipando-a –, tem por base a fruição estética e não o permanente combate social.
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Marvin Hamlisch, receiving three Academy Awards, with Donald O'Connor, Debbie Reynolds and Cher Bono. Photo by AP Wirephoto / Public domain
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