As incertezas e os méritos deixados por Afonso Dhlakama
O investigador do CEI-IUL, Fernando Jorge Cardoso, foi ouvido pelo Público a propósito da morte de Afonso Dhlakama.
O desaparecimento do Presidente da Renamo abre um processo de luta pela sucessão. Dhlakama preparou alguém? Quem vai avançar? O partido quer um civil ou um militar?
O político e ex-guerrilheiro moçambicano Afonso Dhlakama, líder da Renamo há quase 40 anos, morreu esta quinta-feira à tarde na sequência de uma crise diabética, confirmaram ao PÚBLICO duas fontes que acompanham de perto o processo de paz e a política de Moçambique. Dhlakama terá morrido a bordo de um helicóptero que o transportava para tratamento médico urgente.
O líder do maior partido da oposição de Moçambique tinha 65 anos e vivia na região da Gorongosa, no centro do país, para onde se mudou após o regresso da guerra civil, em 2014. Desde o último cessar-fogo entre a Renamo e a Frelimo, no poder, em Março de 2017, que se esperava que Dhlakama regressasse a Maputo e liderasse a oposição a partir da capital.
“Há 40 anos que a Renamo é Dhlakama, Dhlakama, Dhlakama, Dhlakama. Vai ser um processo interno difícil e complicado”, disse ao PÚBLICO um observador da política moçambicana que pediu para não ser identificado. Não é claro quem vai ser o seu sucessor no partido.
“Que se saiba, Dhlakama não tinha um sucessor indicado e não há um homem ou mulher forte evidentes para o substituir”, diz Fernando Jorge Cardoso, especialista em assuntos africanos e professor de Economia no ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa.
(…)
Os “dois méritos” de Dhlakama
Fernando Jorge Cardoso, que nos anos 1970, a seguir à independência de Moçambique, esteve ao lado da Frelimo e com a qual trabalhou, identifica dois méritos em Dhlakama, que correspondem às duas vidas da Renamo: “Foi capaz de transformar um movimento militar — que começou por ser formado pelos serviços secretos da Rodésia do Sul com um perfil de força de contenção e controlo de fronteiras — num movimento nacional de resistência e luta contra a Frelimo. No início, a Renamo juntava os ‘flechas’, os comandos e os homens controlados por Jorge Jardim [o famoso operacional que, durante a ditadura portuguesa, despachava directamente com António de Oliveira Salazar], mais os moçambicanos negros que tinham lutado com as Forças Armadas do Estado Novo. Os serviços secretos rodesianos acolheram-nos e treinaram-nos. A Renamo era comandada a partir da Rodésia do Sul e, mais tarde, a partir de Pretória. Dhlakama faz essa transformação. Conseguiu apoio na população para lutar ao seu lado e, mais tarde, logo nas primeiras eleições, em 1994, conseguiu um forte apoio popular, uma margem muito maior do que a Frelimo esperava.”
Leia o artigo na íntegra no site do Público.
Photo by Adrien Barbier / CC BY-SA 2.0
This work is licensed under a Creative Commons Attribution-NonCommercial-ShareAlike 4.0 International License.