Jiadismo Radical – A anunciada expansão para Oeste

Não é surpresa. A Al-Qaeda já o tinha anunciado em 2014 e o Daesh fê-lo insistentemente nos últimos meses. O Jiadismo Radical perde terreno em alguns dos territórios chave do Médio Oriente mas tenta intensificar a sua ação em outras áreas (como por exemplo no Egipto), mantém a intensidade em África e tenta aumentar a sua influência na Ásia. Na Europa, na América e na Oceânia tenta, a todo o custo, manter o ritmo de intimidação e não se notam grandes diferenças na estratégia aí anunciada: intimidar para que saiam dos países muçulmanos e mostrar nestes países que o “ocidente” é fraco.

O que parece ter mudado é um aumento no esforço para a Ásia. Os ataques no Afeganistão são um sinal claro dessa anunciada estratégia. A Al-Qaeda apoia os Talibãs e tenta crescer na Índia. O Daesh ataca o Irão, causa rutura tanto no Afeganistão e Paquistão e, reclama, avanços significativos nas Filipinas.

Mas há boas notícias. A esmagadora maioria dos governos mundiais começam a olhar para o fenómeno de forma verdadeiramente transnacional. A autocomiseração de pensar que o terrorismo do Jiadismo Radical era o resultado de problemas, exclusivamente, de segurança interna, já deu lugar, de forma ampla e consensual, a uma congregação de esforços sobre as origens do problema, tanto territorialmente como, essencialmente, sobre a narrativa política e ideológica que tanto contamina e se expande. Os países organizam-se, como é o exemplo visível dos que sentem a pressão dos esforços radicais ) e, cada vez mais, há vozes fortes dentro do Islão a mostrarem o caminho para o combate contra o radicalismo e contra os projetos políticos totalitários.

O caminho é longo mas a consciência da dimensão transnacional do problema é um passo muito importante. Os números mostram que há muitos, e que continuará a haver muitos, ataques terroristas em todo o mundo. Só neste ano já podemos registar quase 800 ataques e 5000 mortos. Mas a contra-narrativa está a dar os seus frutos e o esforço para limitar a propaganda online também. Em especial, o desmascarar das bestialidades cometidas pelo Daesh no Iraque e na Síria, tem sido fundamental para expor as verdadeiras intenções de muitos dos seus combatentes e que levam, cada vez mais, muitos a abandonar. É a voz positiva, é a voz corajosa, é a informação coerente o melhor instrumento contra o radicalismo. Não basta tentar calar ou apagar as mensagens dos radicais, até porque nunca se conseguirá fazer em pleno, o que é importante é mostrar a razão, a força dos valores e princípios universais no respeito pelo ser humano e desmascarar, sem quaisquer receios, a enorme incoerência das práticas do jiadismo radical, tanto o violento como o não violento.

Haverá mais ataques, para oeste certamente (ainda no dia 01 de agosto o Daesh reclamou mais um no Afeganistão) enquanto os combates continuam intensos nas Filipinas, mas no resto do mundo também. Há que perseverar e não diminuir o esforço após as pequenas conquistas territoriais como a de Mossul no Iraque. Muito mais importante que conquistar terreno, que é fundamental e um passo essencial, é saber construir um futuro estável nas regiões vítimas dos radicais e, esse esforço, levará décadas, em muitas regiões do mundo, e precisará de uma enorme determinação coletiva.

 

 

Photo by GongashanCC BY-NC-ND 2.0

CC BY-NC-SA 4.0 This work is licensed under a Creative Commons Attribution-NonCommercial-ShareAlike 4.0 International License.

Nuno Lemos Pires

Researcher at CEI-IUL. Professor at the Portuguese Military Academy (PMA). Ph.D. in History, Defence, and IR (ISCTE-IUL and PMA); M.A. in Military Sciences (PMA). Guest lecturer at ISCTE-IUL, U. Nova, IESM, IDN. Professor of Military History and IR at IAEM and AM; Intelligence Officer at NATO / Rapid Deployable Corps (Spain).

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