Moçambique, o fim do paraíso
Viagem por dois livros que têm Moçambique no seu epicentro: em Cabo Delgado o conflito cujas razões urge identificar, na ilha de Moçambique o tempo reparador que ajuda a refletir.
Entre nós, Moçambique é quase desconhecido, se não mesmo ignorado. Apesar da longa relação histórica entre as duas nações, este país da costa oriental africana é remotamente conhecido e apenas na sua versão mais exótica. Praias extensas de areia fina e águas límpidas a par do Parque Nacional da Gorongosa vendem esse produto turístico chamado Moçambique. Essa informação turística baseia-se numa perspetiva exótica do país que, em simultâneo, se baseia na oferta de praias paradisíacas e na possibilidade de contactar com essa natureza estranha e indomável. A história e o património ficam relegados para um nicho de mercado mais ligado ao turismo cultural e, sobretudo, centrado na Ilha de Moçambique, antiga capital da então província colonial. Contudo, a dificuldade em lá chegar torna esta ilha mais atraente para intelectuais e estudiosos do que propriamente para o viajante comum.
Resumidamente, aos olhos do português comum, Moçambique é isto e pouco mais. A diversidade étnica e cultural, a história recente, exceção feita à guerra colonial para as gerações mais velhas, a gastronomia, os desafios políticos e sociais são algo estranho aos olhos e ouvidos portugueses, apesar de uma história comum até há escassas quatro décadas e meia atrás.
As notícias que agora chegam de Moçambique, embora esparsas e tardias face à evolução dos acontecimentos, resultam na interrupção desse imaginário paradisíaco. Num local recôndito e longínquo de Moçambique ouvem-se tiros, sequestram-se pessoas, arrasam-se aldeias, o que provoca um movimento de fuga da população civil. Instala-se o medo entre a população e, boquiabertos, assistimos passivamente a tudo isto, sem perceber o porquê de Cabo Delgado se ter tornado agora o centro das notícias sobre este país.
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As opiniões expressas neste texto representam unicamente o ponto de vista dos autores e não vinculam o Centro de Estudos Internacionais, a sua direcção ou qualquer outro investigador. Foto de Maurits & Marjol / CC BY-SA 2.0
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