No Sahel, os tráficos fazem a felicidade dos tesoureiros dos grupos jihadistas

Os tráficos do Sahel

A região Saheliana [e os seus arredores próximos e afastados] tornou-se nos últimos anos num autêntico eldorado para os traficantes. Desde sempre importantes na região, os diferentes tráficos – droga, armas, medicamentos fraudulentos, pessoas, lavagem de dinheiro, etc. – dispararam com a aceleração da fragilização do Estado e, também, com o caos generalizado induzido pelas ditas primaveras árabes.

A queda de Kadhafi, por exemplo, para além da implosão da Líbia, deixou milhares de mercenários da chamada Legião Africana ‘sem eira nem beira’ e disponíveis para tudo e mais alguma coisa, incluindo, como se veio a constatar, para venderem armas, para integrarem redes de traficantes e para servirem como quadros militares nos vários grupos armados que proliferam no Mali, no Chade, no Níger, no norte da Nigéria, e no norte dos Camarões.

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O envolvimento de Estados

De facto, ao instalar-se o caos nas estruturas de Estado de países como a Tunísia, a Líbia e, em menor grau, o Egipto, estes deixaram de ser que o que no passado mais ou menos recente procuravam ser – obstáculos – ainda que intermitentemente eficazes e “moles” à livre proliferação dos tráficos.

A participação directa ou indirecta de vários dirigentes do Estado e das Forças Armadas de países da região e de inúmeros chefes de facção, sobretudo na Tunísia e na Líbia, nos diferentes tráficos tornaram estes negócios em importantes fontes de rendimentos de dirigentes políticos e chefias militares, num atraente modo de vida para certos sectores populacionais e numa das principais fontes de financiamento de movimentos jihadistas e de outros grupos armados que pululam na região.

No caso dos grupos jihadistas do Sahel e do norte da Nigéria, na atualidade, as receitas – taxas e participações em negócios – provenientes dos diferentes tráficos são provavelmente tão importantes como os financiamentos vindos de piedosos muçulmanos e “oficinas” das monarquias do Golfo e são de certeza maiores do que as receitas obtidas por via dos raptos de expatriados.

Para informação mais actualizada, consultar esta excelente infografia do jornal Le Monde.

Map by the Norwegian Center for Global Analysis (NGCA) in NCGA and Global Initiative against Transnational Organized Crime, Libya: Criminal economies and terrorist financing in the trans-Sahara, May 2015

Photo by Jean Rebiffé / CC BY 2.0

 

CC BY-NC-SA 4.0 This work is licensed under a Creative Commons Attribution-NonCommercial-ShareAlike 4.0 International License.

Eduardo Costa Dias

Researcher at CEI-IUL. PhD in Social Anthropology. Professor at the Department of Political Science and Public Policies, and director of the PhD program in African Studies (ISCTE-IUL). Research interests: the State, relations between Muslim dignitaries and the State, and the transmission of religious knowledge in the islamic society of Senegambia.

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