O ataque dos Estados Unidos à Síria
No dia 6 de abril de 2017, o Presidente dos Estados Unidos Donald Trump tomou a mais importante decisão em termos de política externa desde que iniciou funções: o ataque aéreo, com recurso a mísseis Tomahawk, a instalaçōes militares sírias em Shayart.
A decisão surge na sequência da alegada utilização de armas químicas por parte do regime de Bashar al Assad, na passada terça-feira, 4 de abril, em Khan Sheikhoun no Norte da Síria. O ataque terá causado mais de 70 mortos e centenas feridos e foi denunciado por vários países ocidentais que responsabilizaram directamente o regime sírio pelo sucedido. Nas Nações Unidas, a embaixadora norte-americana, Nikki Haley, avisou de pronto que a administração Trump considerava reagir unilateralmente caso o Conselho de Segurança não respondesse adequadamente ao alegado ataque
O regime de Damasco tinha entretanto reagido às criticas internacionais, negando um ataque intencional e afirmando que as suas forças se teriam limitado a bombardear instalações onde, junto a áreas urbanas e residenciais, os “grupos jihadistas” tinham armazenado uma quantidade considerável de “armas químicas”. Acusou ainda estes grupos de não respeitarem o cessar-fogo negociado pela Rússia e pela Turquia no final de 2016.
A Rússia, principal aliado do regime de Bashar al Assad desde 2015, confirmou a versão dos acontecimentos apresentada por Damasco. No entanto, comentando as relações entre os dois países, Dmitry Peskov, porta-voz de Vladimir Putin afirmou, ainda antes do ataque norte-americano, que o apoio russo a Damasco não é “incondicional” e que o governo russo não consegue “convencer Assad a fazer tudo aquilo que Moscovo pretende”.
Na sua declaração oficial, justificando a sua decisão de atacar a Síria, o Presidente Donald Trump evocou o “horrível ataque químico a civis inocentes” perpretado pelo regime de Assad e a morte “lenta e brutal” de muitas mulheres, crianças e até “lindos bébés”. Para Trump, é de “interesse vital” para a “segurança nacional” dos Estados Unidos “prevenir e impedir a proliferação e a utilização de armas químicas mortais”. Mais ainda, falharam as várias tentativas para alterar o comportamento de Assad” e, como consequência, “a crise dos refugiados continua a aprofundar-se e a região continua a desestabilizar, ameaçando os Estados Unidos e os seus aliados”. O Presidente norte-americano apelou a todas as “nações civilizadas” do mundo para se juntarem aos Estados Unidos nesta tentativa de por um fim à tragédia em curso na Síria e ao “terrorismo” de toda a espécie.
Só ao longo dos próximos dias e semanas se poderão avaliar verdadeiramente as consequências da decisão de Trump e do ataque dos Estados Unidos, quer no que diz respeito à guerra civil em curso na Síria, quer sob o ponto de vista da situação geral no Médio Oriente e do combate ao Daesh. No entanto, parecem ser certas, desde já, as consequências deste acto nas já complicadas relações entre os Estados Unidos e a Rússia que, como é sabido, tem sido nos últimos anos o principal aliado do regime sírio de Bashar al-Assad. A reacção da Rússia ao ataque norte-americano não se fez esperar. Dmitry Peskov, o já citado porta-voz do Kremlin, considerou os ataques aéreos dos Estados Unidos como “um acto de agressão contra um estado soberano” que “viola o direito internacional”. Mais ainda, a acção de Washington vem “infligir um sério golpe nas relações entre a Rússia e os Estados Unidos”, já de si degradadas, e criar um obstáculo de monta ao “estabelecimento de uma coligação internacional contra o terrorismo”. O ministro russo dos estrangeiros utilizou expressões semelhantes e considerou o motivo evocado pelos Estados Unidos como um “pretexto completamente inventado” Para Sergei Lavrov, a situação é muito semelhante à que ocorreu em 2003, quando os Estados Unidos, o Reino Unido e outros países aliados invadiram o Iraque sem a aprovação do Conselho de Segurança das Nações Unidas”.
Homs, Syria, June 2014. Photo by Chaoyue Pan,CC BY-NC-ND 2.0.
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