O calvário britânico

Theresa May, tendo ganho as eleições, perdeu contra si própria.

A convocação, por David Cameron, do referendo sobre a permanência do Reino Unido na União Europeia constitui a decisão mais dramática da política britânica das últimas décadas. O que começou por ser uma manobra política que, internamente, visava reforçar o Partido Conservador e esvaziar o UKIP e, externamente, pretendia endurecer a posição britânica na sua negociação permanente com a União Europeia transformou-se num terramoto cujas ondas de choque irão perdurar por muitos anos. As eleições gerais que, na passada quinta-feira, ditaram a perda da maioria absoluta dos conservadores estão intimamente ligadas a este processo, tendo sido convocadas pela primeira-ministra Theresa May com dois objetivos.

O primeiro objetivo consistia em reforçar a sua legitimidade política. No parlamentarismo britânico a mudança de primeiro-ministro no decorrer da legislatura é habitual. Margaret Thatcher cedeu o poder a John Major em 1990, na sua terceira legislatura, e Major terminaria a legislatura, revalidando a maioria conservadora em 1992. Gordon Brown sucedeu a um desgastado Tony Blair na chefia do governo em 2007 e as eleições seguintes tiveram lugar no ano previsto, em 2010. Porém, o caos em que Brexit submergiu o Reino Unido alterou a política britânica e May entendeu que as negociações com a Europa requeriam uma legitimidade renovada.

O segundo objetivo da primeira-ministra passava por aproveitar o que entendia ser a debilidade do Partido Trabalhista e ampliar a maioria absoluta de que já dispunha. Com uma eleição “fresca” e mais deputados conservadores, seria mais fácil enfrentar o embate com Bruxelas (e com Berlim e Paris). A aparente incapacidade de Jeremy Corbyn de controlar o próprio partido conjugada com as suas fracas perspectivas eleitorais pareciam criar uma oportunidade que poderia, no pensamento conservador, ser posteriormente invalidada pela emergência de uma nova liderança na oposição ou por um eventual revés quando as negociações formais arrancassem.

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Filipe Vasconcelos Romão

Associate Researcher at CEI-IUL. PhD in IR (Univ. Coimbra). Advanced Studies Diploma in International Politics and Conflict Resolution (Univ. Coimbra). Guest Professor at ISCTE-IUL. Professor at UAL. President of the Portugal - South Atlantic Commerce Chamber.

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